David Bowie, uma odisseia erótica

Bowie: The Biography: o sexo como eixo da vida, pessoal e profissional, através de testemunhos de amantes, homens e mulheres, namoradas, sócios, músicos que o acompanharam.

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Hulton-Deutsch Collection/CORBIS

Marianne Faithfull, Tina Turner, Nina Simone, Ronie Spector, Susan Sarandon, Oona Chaplin, Amanda Lear e Mick Jagger – mas o catálogo completo das conquistas de David Bowie está numa biografia dedicada ao cantor/performer/actor, da autoria de Wendy Leigh, que é editada no Reino Unido no dia 1 de Outubro (disponível no Kindle desde 23 de Setembro).

Elizabeth Taylor também? Ou foi uma “amizade amorosa”? Bowie : The Biography, quase nada de música, só sexo. Ou melhor, o sexo como eixo da vida, pessoal e profissional, através de testemunhos de amantes, homens e mulheres, namoradas, sócios, músicos que o acompanharam.

“É fácil esquecer que a carreira de Bowie não foi construída apenas com o seu extraordinário talento musical mas também com a sua atitude extremamente audaciosa em relação ao sexo. Desde muito cedo que Bowie passou de uma experiência carnal a outra”, escreve a jornalista (citação da revista Les Inrockuptibles),“não hesitando em reivindicar a sua bissexualidade e estilhaçando a noção de ‘sexualidade normal’.” Isto desde os seus primeiros momentos profissionais, aos 17 anos, no seio do grupo Davie Jones and The Lower Third: de acordo com a biografia, David manteve sempre as possibilidades em aberto para qualquer negociação contratual com cama em fundo – ria-se a um canto enquanto os agentes o disputavam. Wendy corta qualquer possibilidade de naiveté no jovem David que cresceu num subúrbio operário de Londres, em Bromley: sempre determinado a conquistar a cena musical da cidade, sabendo o que fazer junto da “elite gay”. Diz “um próximo”: “Sempre achei que ele se tornaria ou uma superestrela ou então faria muito dinheiro nas casas de banho públicas para homens em Picadilly”.

“Ele dava a impressão que uma determinada pessoa era a única que existia no mundo, que era o centro do seu universo. Uma vez que a metia no bolso, se assim se pode dizer, partia” – conta um ex-assistente, Tony Zanetta. Que recorda assim o seu amante na cama: “Para ele tudo se resumia a ser adorado ... Acho que o sexo não lhe interessava.” Uma pitada de oportunismo e cinismo, também, quando afirmava: “Sou gay, sempre fui” ou, mais tarde, que era "bissexual."

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Playmates, cantoras, transexuais, groupies, anónimos sortudos e exaltados – aquela história de um aftershow em Los Angeles (corria o ano de 1972, tinha saído The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars) em que topa uma rapariga na pista de dança, faz inquérito sumário à volta para saber se havia compromissos anteriores, dirige-se à pista de dança, “Chamo-me David Bowie, queres vir comigo à casa de banho?”, e depois dos toilettes beija a rapariga na cara, aperta-lhe a mão, “obrigado”, e volta a dançar.

Nessa altura já tinha encontrado a sua primeira mulher, Angie, que seria a mãe do filho Zowie. Dormiam com o mesmo homem. A relação foi aberta - muito poeticamente começou quando explodiu Space Odity – e muito dela se desenrolava no “poço”, uma parte da casa conjugal na zona de King’s Road, uma cama coberta de pele, onde todas as combinações eram possíveis. Angie multiplicava-se em gestos de adoração à aspirante a estrela rock, fornecendo-lhe as raparigas de “espírito mais livre” da cidade, segundo o Daily News. (Parece que não se importou muito quando descobriu o marido com Mick Jagger na cama. Já Slash, guitarrista, nunca se esquecerá de aos oito anos ter apanhado David com a mãe na cama.)

Eram as melhores orgias de Londres, alguém se recorda. Tony Zanetta (de novo) confirma: “O sexo não era ‘big deal’ para eles, era como apertar a mão no fim de uma soirée”. Mas podia ser big deal para outros, como Lindsay Kemp, bailarino, actor, e “mestre” de David, e Natasha Kornilof, designer de guarda-roupa, que ao saberem que tinham o mesmo amante quase que atentaram de forma irreversível contra as respectivas vidas.

Houve Berlim, o affair com Iggy Pop, a quem produziu um disco, a coca a potenciar o furor sexual, o corte com Angie e depois Iman, manequim da Somália. Conheceram-se em 1990. “Soube logo quais seriam os nomes dos nossos filhos na noite em que nos encontrámos. Já sabia que ela era feita para mim.” Há 24 anos, a monogamia.  

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