Um piquenique de funk à luz do dia no coração de Lisboa

Haverá a luz do dia, a relva do parque Eduardo VII e a música funk dançante de Dâm-Funk e de Roy Ayres ou um novo projecto de Rodrigo Leão. É este sábado e domingo, no Jardim Sonoro de Lisboa.

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Dâm-Funk, embaixador do funk mais progressista e verdadeiro homem-espectáculo-solitário Jimmy Mould
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Carl Craig, figura mítica de Detroit, combina jazz, soul, ‘disco’ ou blues com música house DR
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Roy Ayres é alguém capaz de contaminar as linguagens jazzísticas com sons provenientes das linguagens dançantes DR

Durante muitos anos o espaço verde mais extenso do centro de Lisboa, o Parque Eduardo VII, parecia ter sido um pouco esquecido, apesar de sazonalmente habitado por acontecimentos como a feira do livro.

A estrutura e o tipo de ajardinamento do lugar pareciam desenquadrados da vivência contemporânea da cidade. O eixo central é mais um espaço para olhar do que para ser vivido. Mas o parque esconde alguns segredos.

Foi isso que Miguel Fernandes, um dos organizadores do acontecimento Jardim Sonoro, que ali vai ter lugar este sábado e domingo, percebeu quando andava à procura de um espaço. “Um das condições era isto acontecer no centro da cidade”, recorda ele. “A partir do momento em que a Câmara de Lisboa mostrou receptividade, começámos à procura de locais. O parque não era a nossa primeira opção, mas quando chegámos aqui ficámos pasmados com esta clareira, a pequena colina e o arvoredo que criam um envolvimento únicos. Não tínhamos ideia que existia aqui esta área e parece-me que muitos lisboetas também não a conhecem.”

É ali, do lado esquerdo do parque (se estivermos de costas para a estátua do marquês), que irá decorrer a primeira edição do Jardim Sonoro. A intenção primordial não é a vivência e a redescoberta do parque Eduardo VII, mas indirectamente será isso que irá acontecer. “O objectivo era fazer qualquer coisa no coração da cidade, para a cidade, que reflectisse a vivência da cidade e que fosse de dia.” Porquê? “Não havia nada a acontecer na cidade à luz do dia, pelo menos com esta dimensão.”

É isso. São esperados cerca de 5 mil espectadores por dia, “embora o lugar comporte três vezes mais”, reflecte Miguel Fernandes, numa lógica onde se pretende aliar a música com o usufruto lúdico do lugar. Ou seja, trata-se de compatibilizar a manta no chão, o sentar e o relaxar com a música.

Entre as 13h e as 23h haverá muita música para ouvir ou dançar. No sábado, atenções viradas para Dâm-Funk (16h30), proveniente de Los Angeles, embaixador do funk mais progressista e verdadeiro homem-espectáculo-solitário, uma espécie de Jimmi Hendrix dos teclados, alguém capaz de repescar no passado do electro e da soul o futuro.

Mas há dois outros americanos em evidência no sábado, também eles guardiões da melhor memória da música negra, expandindo-a para outras regiões. Falamos de Moodymann (17h45) e de Carl Craig (20h30), figuras míticas de Detroit. O primeiro pela combinação de jazz, soul, ‘disco’ ou blues com música house, como se constata no seu último álbum deste ano.

O segundo por ser um dos DJs e produtores, oriundos do tecno mas não se confinando a ele, mais conhecidos das últimas décadas. Ambos irão estar presentes no parque Eduardo VII na condição de DJs. Mas não são quaisquer DJs. Moodymann, por exemplo, faz questão de falar entre os temas, apresentando-os, porque a música também é a sua história.  

Um dos herdeiros destas figuras é o alemão Rajko Mueller, mais conhecido por Isolée (19h30), que desde os anos 2000, e ao longo de três álbuns, se afirmou como um dos nomes mais salientes do house mais minimalista.

Para completar o cartel de sábado ainda haverá as actuações ao vivo dos portugueses Moullinex (15h15), entre o house e o “disco”, e de Vahgan & The Sky People Band (14h) e uma sessão DJ por Jorge Caiado (13h).

No domingo há curiosidade em perceber o que emanará de A Vida Secreta das Máquinas (17h25), novo projecto de Rodrigo Leão, de índole mais electrónica do que habitualmente, sugestionado pelos sons concretos das grandes cidades. Para além do próprio Rodrigo Leão nos sintetizadores, a formação contará com Marco Alves no trombone, Carlos Tony Gomes no violoncelo e Adriano Filipe também nos sintetizadores.

Para uma viagem à memória do funk, soul e jazz, nada como uma sessão com o veterano Roy Ayres (18h30) com o seu colectivo de músicos. Adepto dos modelos de fusão, o americano é alguém capaz de contaminar as linguagens jazzísticas com sons provenientes das linguagens dançantes.

Quem também iniciou o seu percurso na década de 1970 foi Greg Wilson (21h15), que viria a transformar-se num dos principais divulgadores do funk e da música “disco”, sendo mais tarde o primeiro DJ residente do clube Haçienta de Manchester. Se a música “disco” mais imprevisível tem tido um novo fôlego nos últimos anos a figuras como ele se deve.

Ou a gente mais nova, que tem recebido o seu legado, como os italianos Tiger & Woods (20h15) ou os portugueses do colectivo Discotexas (13h50), bem como Mirror People (16h10), ou seja Rui Maia, teclista dos X-Wife, aqui numa abordagem mais electrónica, e os Thunder & Co (13h).

Também portugueses são os Sensible Soccers (15h), um dos projectos mais celebrados do ano devido ao álbum de estreia, 8, excelente disco de ambientes psicadélicos, harmonias pop e cadências em crescendo.

Quem quiser continuar a festa noite adentro pode fazê-lo nos vinte e um espaços que se associaram ao evento, como o Station, o Europa, o Ministerium Club, o Faktory, o Park, o Lounge, o Incógnito ou a Outra Face da Lua.  “Queremos que as pessoas que estão connosco à tarde possam continuar pela noite porque Lisboa é uma excelente experiência”, justifica Miguel Fernandes.

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