A obra de Banksy que se tornou o balão de oxigénio de uma associação de jovens em Bristol

Mobile Lovers foi comprado por um privado e o valor vai servir para a associação manter as portas abertas.

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A obra não durou muito tempo na parede DR

Podia ter corrido mal. Podia ter sido apenas mais uma obra de Banksy que é roubada das paredes para que alguém com isso possa lucrar. Mas desta vez foi diferente. Mobile Lovers, uma das mais recentes obras do autor em Bristol, durou pouco tempo nas paredes, o que habitualmente não agrada o artista, mas a causa foi nobre. Uma associação recreativa e desportiva daquela cidade britânica que ajuda jovens rapazes estava prestes a fechar portas quando Banksy ali passou por acaso e deixou a sua marca. A Associação depressa retirou a obra, que agora foi vendida a um privado. O valor não foi revelado mas é o suficiente para a associação se manter aberta por “alguns anos”.

Tudo aconteceu em Abril deste ano. A obra, como sempre, apareceu sem que ninguém estivesse à espera e causou furor. Como Banksy já nos habituou, há sempre uma mensagem que é passada nos seus trabalhos. Em Mobile Lovers são muitos os que se revêem naquele casal abraçado focado apenas nos seus telemóveis. É um retrato dos nossos dias. Mas também como já é habitual com tudo o que o misterioso artista faz, a obra não durou muito tempo nas paredes.

Três dias depois já lá não estava. E em vez da obra, havia apenas um bilhete a avisar que esta tinha sido levada: “Era aqui que estava a obra de Banksy. Foi retirada porque corria o risco de ser danificada, vandalizada ou roubada. Como sabem, o Riverside Youth Project [Broad Plain Working With Young People] que fica à vossa esquerda está em risco de fechar por falência. Podem ver a obra de arte no nosso edifício onde está guardado a salvo de danos! Pedimos que contribua com uma pequena doação se pretender ver a obra. Não hesite em aparecer!”.

Em poucos dias, a polícia de Bristol viu-se obrigada a agir e retirou a obra à associação para a entregar à Câmara de Bristol, que optou por expô-la ao público no museu da cidade. Bansky decidiu então intervir e, num episódio quase inédito, escreveu a Dennis Stinchcombe, responsável pela Broad Plain Working With Young People, a dizer-lhe que podia ficar com o seu trabalho.

No entanto ficar apenas com a obra não garantia a manutenção da associação e por isso Stinchcombe decidiu vendê-la. Sabe-se agora que o negócio já foi feito e Mobile Lovers foi comprado por um coleccionador privado, cuja identidade permanece por desvendar, assim como o valor pago. No entanto, segundo a BBC, o montante é o suficiente para manter a Broad Plain Working With Young People aberta durante alguns anos. Nos últimos anos foram várias as obras de Banksy vendidas por muitos milhares de euros.

Mobile Lovers foi uma dádiva fantástica para nós, sem ela, a associação teria definitivamente fechado portas nos próximos 12 meses”, reagiu ao The Guardian Stinchcombe, explicando que a venda deu ao projecto “uma almofada" que permite prosseguir o trabalho com os jovens de Bristol.

Mary McCarthy, da empresa MM Contemporary Arts Ltd, foi a intermediária neste negócio e disse à BBC que não revelaria a identidade do comprador mas que este “é um filantropo que estava muito interessado em investir em instituições para jovens”. “Fui capaz de encontrar um McCarthy comprador com um valor significativo capaz de os apoiar, não para sempre, mas por alguns anos”, acrescentou, louvando o “gesto nobre” de Banksy. “É de notar com valor que um artista que cresceu das ruas devolva de forma tão proeminentes.”

A BBC escreve ainda que o valor de Mobile Lovers deverá ser revelado durante esta quarta-feira quando a obra for entregue em mãos ao seu novo proprietário.

Os jovens da associação estão neste momento a preparar um mural de agradecimento ao artista, também ele de Bristol.

Para George Ferguson, presidente da Câmara de Bristol, esta é apenas mais uma das muitas histórias de Banksy em prol da cidade britânica. “Com um resultado magnífico para a Broad Plain Working With Young People.”

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