Ai Weiwei "vai" a Alcatraz – é um dos acontecimentos da rentrée

A partir do seu estúdio em Pequim, o artista chinês vai intervir em quatro áreas da antiga prisão federal.

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Ai Weiwei em Junho de 2012, exibindo o prazo em que supostamente terminaria o seu regime de liberdade condicional ED JONES/AFP

Os dias da prisão domiciliária de Ai Weiwei já lá vão, assim como os quase três meses que passou numa cela permanentemente iluminada – entre 3 de Abril e 22 de Junho de 2011, o artista chinês esteve detido por suspeita de evasão fiscal (foi pelo menos esse o eufemismo usado pelas autoridades do seu país) –, mas quatro anos depois ainda não é possível dissociá-lo dessa saga que o tornou um herói global. Até porque, para todos os efeitos, Ai Weiwei continua a não ser um homem livre: está impedido de sair da China, agora por suspeita de "outros crimes", incluindo pornografia, bigamia e câmbio ilegal de moeda estrangeira.

Em certo sentido, a prisão tornou-se a sua segunda casa. E é também por isso que foi convidado para intervir em áreas até aqui off-limits da ilha de Alcatraz, em plena Baía de São Francisco, onde os americanos construíram uma das mais lendárias prisões do século XX: @Large, a exposição que ali se inaugurará no próximo dia 27 de Setembro, já um dos acontecimentos da rentrée.
 
Será a partir do seu estúdio em Pequim – ou seja, a mais de 9.500 quilómetros de distância – que Ai Weiwei intervirá em quatro áreas da antiga prisão federal de Alcatraz, que esteve activa entre 1933 e 1963 e alojou fora-da-lei tão míticos como o most wanted Al Capone: a FOR-SITE Foundation conseguiu convencer as autoridades responsáveis pelo actual parque nacional (o National Park Service e o Golden Gate National Parks Conservancy) a abrir ao artista chinês duas alas do hospital (incluindo a ala psiquiátrica), o pavilhão industrial onde presos "privilegiados" eram postos a trabalhar, as celas do Bloco A (tudo o que resta da prisão militar construída no início do século XX) e o refeitório. @Large consistirá numa série de sete instalações que Weiwei concebeu especificamente para estes espaços, "explorando questões urgentes dos direitos humanos e da liberdade de expressão e respondendo à potente e contraditória história de Alcatraz como lugar de encarceramento e de protesto", informa o National Park Service.
 
As peças que ficarão em Alcatraz até 26 de Abril dão conta do posicionamento de Ai Weiwei enquanto artista radicalmente comprometido, sublinha a curadora de @Large, Cheryl Haines, num vídeo de apresentação do projecto: "Ai Weiwei ocupa uma posição única no nosso mundo porque é não apenas um artista contemporâneo particularmente reconhecido e celebrado mas também um poderoso e eloquente defensor dos direitos humanos, da liberdade de expressão e da responsabilidade individual". O facto de estar privado de passaporte sem explicação oficial, continua Ai Weiwei no mesmo vídeo, dificultou "tremendamente" o processo de colaboração com a FOR-SITE, mas "ironicamente" tornou talvez mais premente a sua reflexão sobre os temas propostos. "Esta exposição é sobre a luta pela liberdade de expressão, por um mundo melhor, por um mundo mais civilizado – uma luta que sempre foi restringida, castigada, prejudicada, e ainda o é em muitos, muitos países. Nesse sentido, há uma razão forte, e um background forte, para o que estamos a propor em Alcatraz", argumenta o artista. É realmente irónico: Ai Weiwei precisaria de não estar preso para poder passar pelo menos um dia, como o farão os milhares de visitantes de @Large, na sua nova prisão. 
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