Histórico

Um novo álbum de Pharoah Sanders, gravado ao vivo em Lisboa com uma das mais vibrantes formações da actualidade.

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Um dos concertos escolhidos para assinalar a data histórica cumprida em 2013 — 3O anos — foi precisamente o encontro entre o lendário saxofonista Pharoah Sanders e uma banda reunida especificamente para a ocasião por Rob Mazurek, com elementos de duas das suas mais emblemáticas formações, Chicago Underground e São Paulo Underground. Se é verdade que o concerto representava um momento histórico e um dos pontos altos da edição de 2013, é também verdade que se tratava de um encontro de alto risco, pela idade avançada e pelo frágil estado de saúde do saxofonista, na altura com 73 anos. É esse mesmo registo que temos agora o privilégio de poder ouvir, numa edição da Clean Feed, complementada ainda por um segundo álbum, em vinil, com música totalmente diferente da que aparece neste CD (o concerto teve uma duração de mais de duas horas). 

Em palco, encontravam-se Sanders (saxofone tenor), Rob Mazurek (cornet, flauta, electrónica), Guilherme Granado (sintetizador, samples e percussão), Mauricio Takara (cavaquinho, percussão e electrónica), Matthew Lux (baixo eléctrico) e Chad Taylor (bateria e mbira). O fascínio e a emoção que sentimos na altura repete-se agora na audição destas sete faixas, fazendo-nos reflectir sobre a magia da música, sobre a importância do seu registo para a posteridade e, sobretudo, sobre o declínio de figuras como Sanders, que há muito conquistou a imortalidade através da sua música. O saxofonista, companheiro de palcos e de estrada de gente como John Coltrane, Don Cherry ou Dewey Redman, surge aqui como um espectro, com o seu som característico marcado por uma profunda fragilidade. Em alguns dos momentos, torna-se mesmo difícil distingui-lo no centro da complexa malha sonora. Os seus movimentos musicais são, no entanto, bem claros, ainda que ténues e algo hesitantes. Em seu redor, Mazurek e companheiros não deixam nunca a música morrer, realizando um esforço titânico para elevar o saxofonista, desdobrando-se em improvisações notáveis, sobretudo Mazurek, e longas jamsinstrumentais em que sobressai a alma orgânica da banda, equilibrada entre os sons acústicos de cavaquinho, percussão e bateria, e os sons processados da electrónica, do sintetizador e do baixo eléctrico. Um fascinante registo histórico que encerra em si próprio toda uma história.

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