Electricidade com Kills e dança com Foals na última noite de Super Bock Super Rock

Os cabeças-de-cartaz Kasabian conseguiram maior adesão popular, mas foram os concertos dos Kills, Foals e Dead Combo que marcaram a última noite do festival. Marcaram presença 24 mil pessoas.

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Ambiente no recinto Pedro Elias
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Ambiente no recinto Pedro Elias
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Zé Pedro, homenagem a Lou Reed Pedro Elias
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Albert Hammond Jr Pedro Elias
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Albert Hammond Jr Pedro Elias
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Ambeinte no recinto Pedro Elias
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Homenagem a Lou Reed Pedro Elias
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The Kills Pedro Elias
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The Kills Pedro Elias
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Dead Combo Pedro Elias
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The Foals Pedro Elias
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Oh Land Pedro Elias
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Kasabian Pedro Elias
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Kasabian Pedro Elias

Não foram o grupo mais vitoriado pelas 24 mil pessoas presentes (números da organização), na última noite de Super Bock Super Rock, mas foi dos The Kills o melhor concerto no encerramento.

Em termos de adesão popular os Kasabian e The Foals levaram a melhor, perante um público maioritariamente adolescente, mas foram Alison Mosshart e Jamie Hince na companhia de dois percussionistas que levaram para palco a sombra selvagem do rock.

Não é preciso muito. Uma guitarra, nas mãos de Hince. Às vezes também uma na mão de Alison. A voz e o contorcionismo físico dela. Uma percussão contundente como suporte. Eficácia na aplicação dos golpes de guitarra. E daí nasce electricidade. Erotismo. Selvajaria.

Alison tem carisma. Carne viva. Por vezes, o seu corpo parece descarregar energia, movimentando-se pelo palco todo, como se não conseguisse parar, só se fixando à frente do microfone, lançando a sua voz levemente rouca. Do seu lado esquerdo, está ele. Por vezes parecem desafiar-se. Há um jogo de sedução, resultando em tensão.

Desde a primeira canção foi assim. Ela demarcou o seu território de forma imperial, concentrando em si as atenções. Ele acompanha-a furtivamente a choques de guitarra. A percussão introduz o ambiente, numa toada ritualista que se mantém ao longo do concerto, seja em “Heart is a beating drum”, “Baby says” ou “Monkey 23”.

Em palco, os dois The Kills não têm grandes argumentos para gerar a comunicação fácil com o público, nem sequer singles óbvios ao longo de quatro álbuns. O máximo que fazem é pedir acompanhamento de palmas. Mas não existe bajulação. Apenas um som carnal mas esquelético, direito ao assunto, e a exposição sem simulacros do rock.

Os cabeças-de-cartaz eram os ingleses Kasabian. O reconhecimento popular pareceu dar razão a quem assim os posicionou, embora lhes falte singularidade e um qualquer suplemento extra de criatividade.

O cantor Tom Meighan e o guitarrista e também vocalista Sergio Pizzorno têm um jeito muito britânico de incitar, e por vezes, subtilmente, de provocar, a multidão, na linha do rock inglês dos anos 1990, com os Oasis à cabeça. Algumas canções ficam no ouvido. E o grupo nem se coibiu de centrar o concerto no último álbum, “48:13”, com passagens pelos registos anteriores, e por uma versão de “Praise you”, de Fatbboy Slim. Mas o todo rock nem sempre é muito inspirado, embora tenham feito soltar a celebração na plateia, que teve direito a encore, com Tom Meighan, depois da interpretação final de “Fire”, a despedir-se da forma habitual, cantarolando sem instrumentação alguns refrões de “All you need is love” dos Beatles.

Antes os The Foals haviam sido mais convincentes, com uma sonoridade rock de balanço físico, assente no jogo entre guitarras e na intensidade da interpretação do vocalista e guitarrista Yannis Philippakis. O último álbum “Holy Fire” esteve em evidência, com canções como “Late night” ou “My number” a contagiarem a assistência, através de uma música que é por vezes planante, outras veemente, suportada pela atitude em palco desenvolta do quinteto.

Em “Providence”, Yannis desce ao público, impulsionando-se para cima deste, ao mesmo tempo que continua a tocar guitarra, para delírio de todos, enquanto em “Inhaler” prolongam os motivos instrumentais, com sucessivas descargas de electricidade que parecem não terminar, gerando uma onda de euforia à sua frente.  Em Outubro tinham estado no Coliseu, em Lisboa. Regressaram agora. E pelo que se viu no Meco é provável que voltem muitas outras vezes.

Antes, pelo palco principal, tinha passado Albert Hammond Jr, o guitarrista dos The Strokes, uma das muitas bandas nova-iorquinas influenciadas pelos Velvet Underground, e um colectivo português liderado por Zé Pedro (Xutos & Pontapés) que homenageou Lou Reed, que morreu em Outubro do ano passado. Ainda não estava muita gente presente no recinto, mas para o público mais novo, muito dele sentado, deve ter servido como lição de história do rock.

Os Velvet e Reed continuam a ser duas das mais visíveis referências do rock contemporâneo e isso sentiu-se em palco, com músicos diversos como Tó Trips, Samuel Palitos, Paulo Franco, João Pedro Pais, Jorge Palma, Lena D’ Água, Tomás Wallenstein (Capitão Fausto), Frankie Chavez ou Legendary Tigerman a passarem em revista alguns dos temas mais marcantes de Reed e da história do rock, como “I’m waiting for the man”, “Sunday morning”, “Femme fatale”, “Sweet jane” ou, já com toda a gente em palco, “Walk on the wild side”.

Logo de seguida, Albert Hammond Jr. tratou de mostrar que os acordes de guitarra dos Velvet continuam bastante actuais, mas também que a solo não consegue descolar do seu grupo, parecendo uma versão requentada dos Strokes, o que não lhe fica muito bem. Curiosamente o momento mais quente foi uma versão de “Ever fallen in love (with someone you shouldn’t’ve”) dos velhos Buzzcocks.

No palco secundário, destaque para Oh Land e principalmente para os Dead Combo. Nunca falham. Claro que para quem já os viu inúmeras vezes em palco o travo da novidade diluiu-se um pouco, mas compensam esse facto trazendo uma energia renovada para um contexto de festival. Existe melancolia, mas a guitarra de Tó Trips e o contrabaixo ou o piano de Pedro Gonçalves, coadjuvados pela bateria de Alexandre Frazão, conseguem criar novas movimentações, numa viagem ao mundo, onde nunca se sai da Lisboa do fado, das mornas, da mestiçagem, da malandrice, da boémia ou até do Alentejo.

A verdade é que foram eles que conseguiram reunir maior número de público junto ao palco secundário. A dinamarquesa Oh Land, presença assídua em festivais portugueses nos últimos anos, também já criou uma pequena falange de admiradores, o que não espanta. Tem uma forte presença cénica e uma excelente voz e a suas canções pop electrónicas, sem prometerem novos mundos, são suficientemente imaginativas para não caírem em receitas fáceis.

E foi assim, na noite com menos público, que terminou mais uma edição do Super Bock Super Rock. Segundo a organização estiveram 86 mil espectadores, durante os três dias, no recinto. A segunda noite, com Eddie Vedder, chuva, atrasos e Legendary Tigerman, acabou por ser a mais marcante. As restantes duas foram regulares, ficando na memória concertos dos Tame Impala, Kills ou The Foals.

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