Foi só um jogo

Os brasileiros perderam com dignidade, sem fingimentos ou partes gagas.

Não sei explicar porquê, mas doeu-me mais a derrota do Brasil pela Alemanha do que a eliminação de Portugal. Que terá o raio da língua portuguesa que tanto excita e inspira os alemães? Não podem ouvi-la sem começar logo a marcar golos a torto e a direito.

Somando Portugal e Brasil, como temos de somar, levámos 11 golos: um por cada jogador. O Brasil ainda conseguiu marcar um. "O Brasil ainda conseguiu marcar um" deve ser a frase mais triste da Copa. O "ainda" e o "conseguiu" soam pateticamente.

Estão de parabéns os brasileiros pela maneira honesta como reagiram. Nem um tentou sacudir a água do capote. Reagiram com um espírito trágico monumental. As primeiras páginas dos jornais brasileiros, para além de mostrar o jeitão que têm para fazer boas capas, mostraram um exagero dramático – como se parte do Brasil tivesse morrido, de vergonha – que está à altura dos campeões que foram e hão-de sempre ser.

Também as piadas brasileiras, imediatamente inventadas e circuladas, são uma lição de ironia e de sentido de humor. Riram-se, enquanto choravam. As piadas costumam vir depois de o luto estar feito. Mas os brasileiros, por muito enlutados, são incapazes de não ver o lado engraçado das coisas.

Os alemães portaram-se impecavelmente. Foi mais uma lição de bom ganhar, de elegância na vitória, de fair play antes do jogo, durante o jogo e depois do jogo. Os brasileiros perderam com dignidade, sem fingimentos ou partes gagas.

O futebol é o que menos interessa.

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