Rock chick

Com o segundo disco dos Black Bananas, Jennifer Herrema afirma o rock’n’roll como fonte de prazer

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Passaram, entretanto, mais de dez anos. A dupla com Hagerty acabou e Herrema tem reivindicado, primeiro com os RTX e agora ao leme dos Black Bananas, um epíteto que lhe assenta muito bem: a verdadeira e talvez a última (perdoem o anglicismo) rock chick. Pontapeia cânones, revolve arquivos, não distingue os sintetizadores das guitarras. Só deseja a languidez jubilosa do riff, de qualquer riff. A experimentação, as fantasias do estúdio e a tentação da pista de dança vivem, na sua música, um namoro adolescente.

Com os Captain Beefheart, os Chrome, os Butthole Surfers ou até os Public Enemy, partilha a exuberância sónica, o talento para desenhar canções fabulosas com matéria-prima ingrata, a facilidade em misturar linguagens “incompatíveis”. Mas no seu universo não há paródia, agit-prop, pretensões artísticas, apenas prazer, como aquele que escorre de Electric Brick Wall, o segundo disco dos Black Bananas. Quando Powder8 eeeeeeeeight arranca com batidas gordurosas, vêem-se as luzes de uma discoteca, mas a bateria derruba a canção e esta desliza no escuro, antes de deitar fogo aos cortinados. Led Zeppelin, Funkadelic, Jean-Michel Jarre, tudo num só tema. Tóxico e fantástico. Dope in an island homenageia em simultâneo o dub de Mark Stewart, o noise, o disco e os Stones. Parece difícil? Herrema torna-o fácil. Óptimo tema pop, molhado e alucinante. Ao som de Hey rockinElectric Brick Wall afirma-se como grande disco. Não há hipótese. A caixa de ritmos silva como poucas (jurar-se-ia que Martin Rev anda por ali), as guitarras agigantam-se e a batida delira. Tecno? Rock? Pop? Não se sabe. A regar tudo isto, estão a acidez e o deboche da voz de Jenniffer, pouco convincente em Physical emotions (a faixa que mais se compraz no r&b) e irresistível noutro par de belos temas: na balada fabulosa que éEve’s child (ouve isto, Ariel Pink) e em Bullshit and lies, que a banda (Brian McKinley, Kurt Midness e Nadav Eisenman) podia assinar com o nome de The Revolution. Escrevia-se atrás que o universo de Herrema é do prazer, mas aqui o prazer é inseparável da música. Resumindo, este é um disco para aqueles que vivem neste tempo, mas que pertencem a outro tempo.

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