António Costa tem de esclarecer

É preciso exigir o desfilar de ideias em vez de ambições.

No núcleo duro da sua direcção de campanha tem Pedro Nuno Santos, um socialista, ex-líder da JS e líder da distrital de Aveiro, que a algum tempo afirmou: “… a dívida não é para pagar. As pernas dos credores vão tremer…”. Exige-se rigor e responsabilidade e António Costa não pode refugiar-se no silêncio e no vazio das suas propostas. Temos de ter respostas, nomeadamente, se a dívida é para pagar e se é ou não para reestruturar? Temos todos de contribuir para a credibilização da política.

António Costa desestabilizou o PS e agora não pode recusar debater com Seguro. Os portugueses querem conhecer as suas ideias, as suas propostas, querem conhecer as suas diferenças programáticas relativamente às propostas de Seguro.

As primárias propostas por Seguro exigem um debate esclarecedor e se for recusado não estamos perante um problema de consciência, mas sim perante uma “golpada” sem precedentes no PS.

A política vive de esperança e os apoiantes de Costa vão afirmando que há três anos não há esperança em Portugal. Em parte até concordo, de facto os portugueses perderam há três anos a esperança e o PS averbou uma das suas maiores derrotas de sempre em eleições legislativas. Recuperar a esperança leva o seu tempo. Estava a regressar. Os portugueses timidamente aproximavam-se do PS, têm memória, de novo começavam a acreditar, e por isso mesmo lhes deram duas vitórias, resultado de um trabalho de credibilização, iniciado há três anos.

Agora, porque se perspectiva uma vitória do PS nas próximas legislativas, quem por duas vezes, em 2011 e 2013, faltou à chamada e à responsabilidade, surpreendentemente apresenta-se a exigir imediatamente eleições internas. Entretanto, recusa debater com o Secretário-geral do PS, o qual pretende afastar do cargo, reeleito democraticamente ainda há apenas um ano.

Recordo uma frase do saudoso Professor Mota Pinto: “ Tenho sempre as chaves do carro à mão”. Pelos vistos, Costa na acalmia da tempestade que provocou quer que Seguro as entregue, sem debate, no silêncio da ambição.

Gostaria de conhecer e os portugueses gostariam de saber, se Costa, tal qual o ouvi no Alentejo, em 2009, nas jornadas parlamentares do PS, ainda defende a regionalização e se continua ou não convicto do mérito da proposta. Regionalizar significa aumentar a despesa, quem pensar o contrário tem de o demonstrar, e desta já temos e em excesso.

Os portugueses gostariam de conhecer as inovadoras propostas de António Costa, porque quanto aos protagonistas, entusiastas, que o acompanham, bem os conhecemos e sobretudo conhecemos o seu trabalho ou a falta dele.

A razão tem-me enganado muitas vezes. A intuição não. Alcácer Quibir não é um tempo longínquo, está constantemente presente em nós. Porque teríamos chegado aqui?

Bem o sei. Chegados aqui… aqui estou. Às voltas com a imaginação para realçar as diferentes aparências, com Costa a refugiar-se em declarações banais, sem propostas, nem debate, a beneficiar do desgaste político de Seguro que durante três anos carregou uma pesada herança, sem dela se poder libertar, gerindo-a com pinças, no respeito pelos compromissos assumidos, num monumental esforço de unidade do PS.

Quanto mais perto estamos do fim mais o tempo sobra. Já não há outro remédio senão aquele que mora dentro de nós. A autenticidade passa pela sinceridade. A luta terá de continuar, mas se nada conseguirmos a hora será dos felizes que, acomodados no conforto de qualquer manjedoira, nem sequer têm consciência da sua má consciência.

Não sei se convenço os que desde a primeira hora recusaram ser convencidos. É muito difícil desfazer ideias feitas, lutar contra esquemas estabelecidos, protestos e acusações. Porém, meto uma pedra no sapato, tal qual andaram a meter pedregulhos no caminho de Seguro. E a pedra que meto é a de exigir o desfilar de ideias em vez de ambições, de debates entre os candidatos para afinal os portugueses conhecerem quem melhor poderá servir Portugal.

Economista e ex-deputado do PS

Sugerir correcção
Comentar