"O jogo contra a Holanda, nos oitavos-de-final, foi a verdadeira demonstração do espírito lusitano"

Um dos heróis do Mundial de 2006 recorda o desempenho da selecção nesse ano e fala das expectativas para o Brasil.

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Já tinha feito parte dos 23 no Mundial de 2002, mas, à sombra de Vítor Baía, não chegou a ser utilizado. Só que depois veio Scolari e Ricardo não só pegou de estaca no conjunto lusitano, como virou herói na hora de travar grandes penalidades - em 2006, nos quartos-de-final frente à Inglaterra, tornou-se mesmo no único a defender três castigos máximos num jogo do Mundial. Com a memória de uma verdadeira "família" unida em torno de um objectivo comum, o guardião garante que vai "alimentar sempre o sonho" de ser convocado para a equipa das quinas.

A selecção que representou Portugal na Alemanha, em 2006, conseguiu um dos melhores desempenhos de sempre em Campeonatos do Mundo. Vê esta equipa a poder igualar esse resultado? 
Acredito que sim, mesmo sabendo que se trata de um Mundial, onde estão as melhores selecções. Diria que não somos favoritos, mas temos uma selecção fabulosa que eu, pessoalmente, gostava de ver chegar à final. 

Quais é que foram os trunfos que, na altura, vos permitiram chegar às meias-finais do Mundial? 
Acho que o segredo, não só no Mundial 2006, mas em todo o meu percurso na selecção, sempre foi termos um grupo de trabalho muito forte, uma verdadeira família. Felizmente, na selecção portuguesa, qualidade há sempre, mas, depois, o que faz a diferença é a forma como o colectivo reage às adversidades. É preciso haver muita união para saber reagir às dificuldades. 

Foi um dos heróis da campanha de 2006, ao defender três penáltis contra a Inglaterra nos quartos-de-final. Ainda hoje, quando começa todo este burburinho à volta da selecção e do Mundial, recorda esses momentos? 
Claro que me lembro sempre, não só disso, mas de muitos outros momentos que vivi com a camisola da selecção. Hei-de dizer sempre que a selecção foi o melhor clube da minha carreira. Há muita gente que só se lembra da equipa portuguesa nestas fases. As pessoas esquecem-se que, durante muito tempo, não era usual Portugal ser presença assídua nas fases finais destas provas e, de há uns anos para cá, passou a ser. Há que dar valor a isso. Eu sofro sempre pela selecção. 

Quais são as melhores recordações que guarda desse Mundial? 
Uma das melhores recordações é o jogo que fizemos contra a Holanda, nos oitavos-de-final [com 16 cartões amarelos e 4 vermelhos mostrados durante essa partida, o jogo ainda hoje é conhecido como ‘A batalha de Nuremberga’]. Acho que esse jogo foi a verdadeira demonstração do espírito lusitano, porque, mesmo face a grandes adversidades, antes, durante e depois do jogo, conseguimos dar uma resposta muito positiva. 

Quais são, a seu ver, as principais diferenças entre essa selecção de 2006 e a actual? 
Só não digo que é totalmente diferente porque alguns dos que jogaram comigo ainda lá estão, mas é óbvio que é uma realidade diferente, são tempos diferentes e mesmo as características dos jogadores são diferentes. Penso que, neste momento, temos uma selecção mais experiente, com jogadores mais habituados a jogar no estrangeiro, com outra tarimba internacional. Basta ver que nas finais das competições europeias deste ano todas as equipas tiveram jogadores portugueses, algumas mais do que as próprias equipas nacionais… 

E quanto aos pontos mais fortes e mais fracos desta selecção? 
Os pontos fracos... não os vejo. Quanto aos pontos mais fortes, acho que passam essencialmente pela capacidade que esta selecção tem de conciliar qualidade, trabalho e empenho. 

Portugal é, por tradição, uma selecção muito emotiva, que em alguns momentos joga muito com o coração. Acha que isso prejudica ou, pelo contrário, até beneficia? 
Não partilho da ideia que Portugal seja uma selecção demasiado emotiva ou que jogue demasiado com o coração. Acho que todas as grandes selecções têm de jogar com dedicação e com o coração, porque só a qualidade não chega para vencer jogos. 

O actual técnico da selecção é alguém que conhece muito bem, com quem já jogou no Sporting e também na selecção. Vê-o como a pessoa ideal para gerir este conjunto de jogadores que vão estar no Brasil? 
Absolutamente. É fantástico a todos os níveis – enquanto homem, enquanto jogador e enquanto treinador. É alguém que pensa pela cabeça dele, o que é uma característica importante no cargo que ocupa. 

E quais são as maiores dificuldades com que o seleccionador se vai deparar nesta missão? 
A grande dificuldade vai mesmo ser o nível competitivo das selecções que vai defrontar, ou não se tratasse de uma competição ao mais alto nível. 

A nível pessoal, alimentou, ao longo dos últimos anos, a esperança de ser convocado para este Mundial? 
Vou alimentar sempre o sonho de ser convocado, até porque, como já disse, foi o melhor clube da minha carreira. Mas, independentemente das escolhas que são feitas, hei-de estar sempre com a selecção de corpo e alma.

E relativamente à introdução das novas tecnologias, que será uma estreia em Mundiais? 
Acho que não vai ajudar grande coisa. Para ser realmente útil, as coisas deveriam ser feitas de outra forma: deveria haver um árbitro que tivesse acesso aos meios televisivos. Desta forma, em três, quatro segundos, poderia esclarecer as dúvidas e transmitir a decisão automaticamente ao árbitro de jogo.

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