Ex-autarca socialista encontrado morto juntamente com a ex-mulher

Aires Ferreira foi presidente da Câmara de Torre de Moncorvo durante sete mandatos consecutivos.

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Miguel Nogueira
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Aires Ferreira, antigo presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, foi encontrado morto ao final desta manhã, juntamente com a ex-mulher, em casa desta, naquela vila do distrito de Bragança.

Fernando António Aires Ferreira, que também foi adjunto de Ricardo Magalhães quando este era Secretário de Estado do Ambiente do Governo de António Guterres, tinha deixado os destinos da Câmara de Moncorvo em Setembro, depois de sete mandatos consecutivos.

Presidente da concelhia socialista moncorvense, foi eleito, nas últimas autárquicas, para a Assembleia Municipal.


Os dois corpos foram descobertos por volta das 12h, pela empregada de limpeza. As autoridades encontraram uma carta de despedida alegadamente assinada pelo ex-autarca e uma outra carta da ex-mulher.

A Polícia Judiciária está já a investigar as circunstâncias em que terão ocorrido estas duas mortes.

Jorge Gomes, presidente da Distrital Socialista, diz que se vive “um momento de consternação” pelo sucedido. Ao PÚBLICO, amigos de Aires Ferreira admitem que o sentiam “estranho” nos últimos tempos, havendo mesmo quem temesse “um desfecho infeliz” para o histórico socialista.

Aires Ferreira e a ex-mulher, que tinha sido sua assessora na autarquia moncorvense, tinham-se reaproximado há relativamente pouco tempo.

Uma tragédia anunciada?
Amigos e adversários de Aires Ferreira recordam um homem “de convicções”, que se preparava “muito bem” para o debate político. Mas uma relação complicada com a ex-mulher, de quem se tinha voltado a aproximar recentemente, e o vazio sentido com a perda de protagonismo no dia a dia de Torre de Moncorvo poderão estar na base deste desfecho.

Pelo menos esta é a convicção de diversas personalidades que com ele conviviam há décadas e que estranhavam o comportamento dos últimos tempos. “Ele vivia para a política. Só pode ter havido um vazio e alguma desilusão”, frisa José Mário Leite, director adjunto do Instituto Gulbenkian de Ciência, que em Setembro venceu o duelo com o ex-autarca pela presidência da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.

Depois de sete mandatos consecutivos como presidente da Câmara, com um interregno pelo meio para ser adjunto do secretário de Estado do Ambiente, Ricardo Magalhães, no primeiro Governo de António Guterres, Aires Ferreira sentiu alguma dificuldade em fazer a transição. A desavença, mais ou menos pública, mas nunca publicamente assumida, com o seu primo, José Aires, que acabou por indicar como candidato à sua sucessão nas listas do Partido Socialista, fragmentou a concelhia local e o ambiente nunca mais lhe foi favorável, sobretudo depois da derrota eleitoral. Uma derrota especialmente sentida pelo próprio Aires Ferreira que, como candidato à Assembleia Municipal, recolheu menos votos do que o primo, candidato à presidência da autarquia.

“Algumas pessoas passaram a falar-lhe menos”, admite Berta Nunes, a socialista que preside à Câmara de Alfândega da Fé, que com ele partilhou uma amizade de vários anos. “Houve algum ostracismo. É de lamentar”, sublinha a autarca, destacando, no entanto, que “deu muito ao concelho, ao distrito e ao partido”.

Os vizinhos ouviram uma discussão no último domingo e, ontem de manhã, foi encontrado em casa do autarca, na vila, uma nota pedindo para alguém se dirigir a casa da ex-mulher e para ser avisada a GNR. Alguns amigos e companheiros de partido explicam que a relação sempre foi conflituosa. Apesar do namoro dos últimos tempos, “ela não quereria assumir publicamente a relação”, explicou ao PÚBLICO um amigo de Aires Ferreira.

Mota Andrade, único deputado do PS eleito pelo distrito de Bragança, lembra que perdeu “um amigo de 40 anos”. “Tivemos lutas intensas mas ultrapassámos sempre isso”, frisa, revelando ter sido uma das últimas pessoas a falar com ele, quando lhe ligou “a justificar a ausência na reunião de Comissão Política Distrital”, segunda-feira à noite. Mota Andrade garante que nunca imaginou “que uma coisa destas pudesse acontecer” e recorda o empenho do antigo autarca em causas para a região. “A barragem do Baixo Sabor e o IP2 devem-se muito ao seu trabalho”, frisa.

José Mário Leite recorda as “posições críticas mas muito fundamentadas” de Aires Ferreira, garantindo ter ficado “com pena” quando tomou conhecimento da renúncia ao mandato como deputado na AM de Torre de Moncorvo. “Era um elemento extremamente valioso. Vivia para a política”, recorda.

Américo Pereira, socialista, presidente da Câmara de Vinhais, recorda um episódio na campanha para as últimas presidenciais, quando Aires Ferreira sofreu uma queda à saída de um restaurante, em Bragança, que o deixou vários dias internado com um traumatismo craniano. As mazelas nunca mais desapareceram.

Já em 2010, numa entrevista intimista à transmontana revista MAS, confessava-se “sportinguista, mas pouco sofredor”. Foi atleta do FC Porto em xadrez e atletismo. Era engenheiro civil, mas chegou a pensar ir para o seminário e ser padre. A vontade materna não deixou. Também pensou na advocacia mas os pais consideravam que não tinha jeito para falar. Tentou ir para a Escola do Exército mas o pai, militar, não autorizou.
 

Notícia actualizada com opiniões de várias personalidade sobre Aires Ferreira e com novas informações recolhidas junto das autoridades policiais.

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