Segunda volta define futuro das negociações com as FARC na Colômbia

Oscar Ivan Zuluaga foi o mais votado na primeira volta das presidenciais. Defronta Juan Manuel Santos a 15 de Junho.

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Oscar Ivan Zuluaga diz que as FARC são “o maior cartel de narcotraficantes do mundo” John Vizcaino/Reuters

O actual chefe de Estado colombiano, Juan Manuel Santos, e o antigo ministro Oscar Ivan Zuluaga vão disputar uma segunda volta das eleições presidenciais na Colômbia, depois de nenhum deles ter alcançado uma maioria na votação de domingo. A campanha deste segundo duelo deverá centrar-se ainda mais no processo de paz com as FARC.

Santos, artesão das históricas negociações de paz com a guerrilha marxista das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), obteve 25,6% dos votos, ficando abaixo do resultado conseguido por Zuluaga, um feroz opositor do diálogo, que contabilizou 29,3% dos votos.

Os dois homens vão defrontar-se nas urnas no dia 15 de Junho, numa votação que promete transformar-se num verdadeiro referendo à continuação, ou não, das conversações de paz.

No poder desde 2010, Juan Manuel Santos, cujo Governo abriu as negociações sem cessar-fogo bilateral, quer continuar as discussões com as FARC de modo a resolver o mais antigo conflito da América Latina, que ao longo de meio século fez mais de 220 mil mortos e cinco milhões de deslocados.

“Os colombianos vão ter duas opções: podem escolher entre aqueles que querem o fim da guerra e aqueles que preferem a guerra sem fim”, reagiu o chefe de Estado a partir da sua sede de campanha em Bogotá, aplaudido pelos seus apoiantes com gritos de: “Paz! Paz! A Colômbia exige a paz!”

Fundada em 1964, na sequência de uma revolta dos trabalhadores rurais, a principal guerrilha colombiana ainda conta com cerca de 8 mil combatentes, espalhados pelas regiões rurais. As FARC comprometeram-se a observar uma trégua durante o período eleitoral, cuja primeira volta decorreu sem incidentes de maior e ficou marcada por uma abstenção que rondou os 60%.

Oscar Ivan Zuluaga, antigo ministro da Economia, de 55 anos, defende a suspensão das negociações, acusando o Governo de Santos de oferecer a “impunidade” às FARC, que qualifica como “o maior cartel de narcotraficantes do mundo”.

"Não podemos deixar as FARC mandar no país” e “o Presidente não pode nem deve ser manipulado”, lançou o candidato mais votado perante uma multidão triunfante de apoiantes, prometendo trabalhar para “uma paz séria e responsável”.

Em caso de vitória na segunda volta, Zulaga (que beneficia do apoio do ex-Presidente conservador Alvaro Uribe) anunciou a intenção de fazer um ultimato de uma semana à guerrilha, para que esta entregue as armas. A imposição dessa condição levará à ruptura das actuais conversações, que se desenrolam em Cuba há 18 meses.

Até agora, as negociações iniciadas em 2012 já permitiram chegar a pré-acordos sobre a necessidade de uma reforma agrária, a participação dos ex-guerrilheiros na vida política e a luta contra as culturas ilícitas que alimentam o tráfico de droga.

Os três outros candidatos da primeira volta, que tentaram orientar os debates para as questões sociais, foram claramente derrotados: a conservadora Marta Lucia Ramirez (15,6%), Clara Lopez (15,3%), de esquerda, e o ex-presidente da esquerda da Câmara de Bogotá, Enrique Peñalosa (8%).

Os temas da saúde, educação ou da pobreza que atinge um terço da população de 47 milhões de habitantes do país eclipsaram-se durante a campanha.

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