Torneio Kiko Rosa: Recordações e narizes vermelhos

Realiza-se neste sábado no Estádio do Restelo a quarta edição do evento em memória do pequeno jogador do Belenenses

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Dizem que a dor maior é a morte de um filho, mas, como em tudo na vida, de cada perda há que retirar novas forças. Para Alexandre Faure da Rosa, cujo filho Kiko era jogador do Belenenses e perdeu a vida aos oito anos devido a um neuroblastoma, o novo ânimo para enfrentar dias mais vazios surgiu quando outros pais e desportistas se propuseram homenagear com um evento desportivo a memória do seu pequeno atleta, esse “jogador aguerrido” que continuou a marcar presença em campo mesmo quando debilitado por vários tratamentos médicos.

Foi assim que a comunidade do Belenenses organizou em 2011 o primeiro Torneio Kiko Rosa, que em quatro anos se tornou uma referência da modalidade para os escalões mais jovens e no próximo sábado volta a reunir 900 atletas no Estádio do Restelo.

Alexandre Faure da Rosa reconhece: “Isto começou tudo como um tributo ao meu filho”. Mas também acrescenta: “A prova tornou-se cada vez mais emocionante para os miúdos que a disputam, porque eles entram no espírito da competição e vivem-na muito a sério”.

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Na evolução entre um momento e o outro, há duas análises a fazer e a primeira prende-se com a identificação dos motivos pelos quais a memória de Kiko deve ser prolongada. Nesse caso, Alexandre Faure da Rosa confessa ser “suspeito para falar”, mas, enquanto organizador do torneio, justifica: “O Kiko era um grande apreciador de râguebi, vivia intensamente o jogo, em especial no que se referia ao Belenenses, e sempre que podia acompanhava os jogos dos Seniores. Tinha muita garra a jogar e o que impressionou mais as pessoas foi que a doença lhe apareceu aos cinco anos e ele ficou bastante condicionado pelos tratamentos, mas não deixou de jogar por causa deles. Foi por isso que, quando morreu, houve um grupo espontâneo de pais ligados ao clube que lhe prestaram homenagem e a secção de râguebi abordou logo a possibilidade de se fazer um torneio em sua honra”.

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Na passagem dos valores pessoais aos competitivos descobre-se depois a explicação para o crescente entusiasmo que o evento vem motivando em quatro edições e que se expressa este ano em 900 participantes de 50 clubes, todos com idades compreendidas entre os seis e os 13 anos. “A prova ganhou o estatuto de torneio de referência pelo seu modelo de competição, que replicámos de uma equipa francesa, o Toulouse, e por envolver também um grande convívio entre atletas, treinadores e agentes, com um almoço a sério, música ao vivo e confraternização entre todos”, explica Alexandre Faure da Rosa.

A atribuição de prémios às melhores prestações vem depois funcionando como um incentivo suplementar – “mesmo que nem todos concordem” com uma natural selecção entre vencedores e vencidos, lamenta o pai de Kiko – e a toda a organização do evento está ainda associada uma filosofia de responsabilidade social comum a participantes e espectadores.

No que se refere aos primeiros, essa componente começa por manifestar-se na selecção dos clubes em prova, uma vez que a organização convida para o evento colectividades de todo o país, mas, quando se vê obrigada a restringir o número de participantes por questões de logística, "privilegia aqueles que, na sua actividade normal, já demonstram ter preocupações de cariz social".

A solidariedade por parte do público, por sua vez, manifesta-se sobretudo nos donativos à Operação Nariz Vermelho, que Alexandre Faure da Rosa admite ser a instituição de âmbito social que "é sempre convidada para o torneio, porque acompanhou o Kiko enquanto ele esteve no hospital e lhe deu muitos momentos de alegria".

Entre as 09h00 e as 18h00 de sábado, portanto, estará em jogo no Restelo muito mais do que râguebi.

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