Regresso ao franchise

Talvez se possa traçar a linhagem da actual tendência para o blockbuster de super-heróis com sobrecapa existencialista, que Christopher Nolan aperfeiçoou ao limite em O Cavaleiro das Trevas, à abordagem sisuda que Bryan Singer trouxe aos mutantes X-Men da Marvel nos dois primeiros filmes da série, em 2000 e 2003, invocando o Holocausto e a xenofobia como subtextos destas aventuras de eternos marginais incompreendidos pela sociedade. No interim, a série já se espraiou por mais quatro filmes - um esquecível terceiro que “fechava” o círculo dos dois primeiros, duas aventuras a solo de Wolverine e uma “prequela” curiosa, X-Men: O Início (2011), que injectava uma dimensão frívola, james-bondiana, na “história de origem” das personagens. Dias de um Futuro Esquecido é o regresso de Singer ao franchise, cruzando de modo engenhoso os X-Men “jovens” de O Início com os X-Men “clássicos”; trata-se de jogar com paradoxos temporais, colocando os mutantes sobreviventes de um futuro distópico e apocalíptico a enviarem Wolverine de “regresso ao passado”, a 1973, para impedir a criação de uma arma imbatível que destruirá a civilização mutante.


É, de certo modo, uma versão super-heróica do Exterminador Implacável de James Cameron, mas torna-se claro que há uma esquizofrenia latente que o filme nunca resolve: o tom sombrio que Singer introduziu nunca encaixa na aventura mais leve das cenas do passado, sugerindo que não seria ele o nome certo para assinar esta tentativa evidente (e mais artificial do que orgânica) de “relançar” a série. Os actores ajudam muito, é verdade - Hugh Jackman, James McAvoy, Michael Fassbender e Jennifer Lawrence emprestam ao filme uma densidade que nem sempre estas coisas têm, é pena que Ian McKellen e Patrick Stewart sejam meras participações fugazes -, mas a sensação é que, apesar das boas ideias que por aqui correm, Dias de um Futuro Esquecido é apenas mais um filme de super-heróis, sem se distinguir de uma modorra cansativa que Hollywood já produz em linha de montagem.

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