No aeroporto de Lisboa não houve muito quem ligasse ao protesto dos polícias

Sindicato prossegue campanha que ministro Miguel Macedo considera “verdadeiramente lamentável”.

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Sindicalistas tentaram sensibilizar turistas para os seus problemas José Maria Fernandes

Vestidos à civil nas chegadas do aeroporto de Lisboa, os coletes reflectores a servirem de uniformes, Luís Barreto e os restantes polícias tentam captar a atenção dos turistas que se preparam para entrar nas filas dos táxis. Não é tarefa fácil: entre o arrastar das malas e o sacar dos telemóveis logo que se apanham em terra, as mais das vezes o panfleto em que alertam os visitantes de Portugal para a perda de direitos dos agentes da autoridade é dobrado em quatro e metido ao acaso no bolso, sem ter sequer direito a uma espreitadela de curiosidade. Ou então enrolado á laia de papel de cigarro e esquecido logo a seguir.

“Sabia que um polícia em Portugal tem um vencimento inicial inferior a 800 euros? No seu país quanto é que ganha um polícia?”, pode ler-se no flyer que o Sindicato Nacional de Polícia (Sinapol) distribuiu esta tarde a quem chegava a Lisboa. Depois de já ter passado pelo aeroporto do Funchal, a campanha irá ainda fazer escala no Porto (dia 31 de Maio), em Ponta Delgada (dia 4 de Junho) e em Faro, em data ainda a marcar. Traduzida também em inglês, francês, alemão e espanhol, a mensagem termina dizendo que os agentes da PSP “estão desmotivados” e que “é mais que evidente que um trabalhador desmotivado não produz tanto como um trabalhador motivado”. Orgulhoso das redução das estatísticas da criminalidade, que permitem ao Governo chamar a Portugal um país seguro, o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, classificou o protesto como “verdadeiramente lamentável”. Quem chega a terras lusas nem por isso.

“Estava à espera de pior”, admite Thomas Fischer, um jornalista alemão a residir há vários anos em Portugal. Depois de tudo quanto ouviu sobre o protesto do Sinapol, contava uma campanha mais radical, destinada a criar um sentimento de insegurança a quem aterra em Portugal. Afinal não. Se o recém-chegado for de origem germânica e não dominar nenhum outro idioma nem sequer conseguirá, aliás, perceber lá muito bem o que está em causa. Na falta de alguém que falasse a língua, o Sinapol recorreu à tradução automática do Google, admite o líder do sindicato, Armando Ferreira.

“Assustador isso, né?”. Acabado de chegar do Maranhão com a mulher para umas férias em Lisboa e depois no Porto, Bruno Fonseca, um advogado de 35 anos, está a falar não da tradução mas à própria situação descrita pelos polícias – em particular da perda de acesso a serviços médicos grátis, problema que lhe é caro. “No Brasil as redes públicas de saúde são muito precárias e se queremos ter um plano de saúde temos de o pagar do nosso bolso”, lamenta. Fica mais descansado quando percebe que não há nenhuma greve das forças de segurança em curso. “Uma paralisação ia colocar a população contra eles. Este tipo de consciencialização das pessoas é mais eficaz”, observa. “Se o problema não é de segurança, então fico mais aliviada”, corrobora outra advogada brasileira.

Os sindicalistas estão agora às voltas com uma idosa que confundiu os seus coletes com os dos funcionários dos aeroportos – e quer à viva força ser devidamente informada do paradeiro de determinado serviço. Não há-de ser a última passageira a fazê-lo, e a recusa dos polícias em se transformarem em guias de aeroporto há-de custar-lhes algumas caretas de desagrado.

“É uma vergonha que isto aconteça”. Isto, para Maria Santos, uma gestora de empresas reformada vinda de um passeio na Irlanda, é a situação a que o país chegou, com os polícias obrigados a irem protestar para a porta do aeroporto – e não o protesto em si. “De facto, esta campanha dá uma péssima imagem do país”, admite. “Mas eles têm todo o direito a lutar por aquilo que acham que é justo”.

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