Centrais sindicais fazem apelo ao voto nas europeias

Afastados nas comemorações do 1º de Maio, os líderes sindicais convergiram em duas ideias. Arménio Carlos, da CGTP, e Carlos Silva, da UGT, criticaram as medidas do Documento de Estratégia Orçamental e apelaram ambos ao voto, no próximo dia 25.

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CGTP, Lisboa Daniel Rocha
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UGT, Lisboa Rui Gaudêncio
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À hora marcada para o arranque do desfile da CGTP, em Lisboa, a Associação de Inquilinos Lisbonenses aproveita a sua varanda, virada para a Almirante Reis, para dar música a quem passa. “Por morrer uma andorinha não se acaba a Primavera”, canta Carlos do Carmo, às 15 horas em ponto, mas no Intendente a Primavera parece Verão. O sol queima. É do lado esquerdo da Avenida, como convém nesta ocasião, que se juntam centenas de pessoas.

No Porto, à mesma hora, umas largas centenas de pessoas juntam-se na Avenida dos Aliados. No centro da Avenida, 40 cartazes, um por cada ano da democracia, lembram a data redonda das celebrações do 25 de Abril e do 1º de Maio, em liberdade. O lema repete as imagens: “Abril e Maio de novo, com a força do Povo”. A CGTP traz bandeiras, megafones e revolta nas palavras.

Em Lisboa junta-se a ironia do Sindicato dos Trabalhadores dos Call-Centers: “Eu quero um head-set só para mim”. 

Este 1º de Maio de 2014 não é comparável, em mobilização, ao de há 40 anos. Mas tem, ainda assim, uma expressão política que resiste ao tempo. Agora, em cada esquina há uma selfie. Ou um iPad a filmar. Há duas faixas em nepalês (que pedem, ou pelo menos foi isso que nos garantiram, direitos iguais para os imigrantes daquela nacionalidade). O ar dos tempos é tal que são as míticas ceifeiras alentejanas, trajadas a rigor, que destoam no meio de tanta tatuagem à mostra (o calor aperta). O 1º de Maio da CGTP não é homogéneo. Tal como a rua que o acolhe, em Lisboa.

Do cheiro doce do cardamomo, ali junto ao hipermercado de especiarias do Martim Moniz, ao fumo dos assadores de bifanas na Alameda, há espaço para se encontrarem jovens com pós-doutoramento e imagens tão básicas como a de um coelho esfolado, pendurado numa vara. 

"É só cortar e roubar a quem vive a trabalhar", ouve-se num carro de som. "É só mais um empurrão e o Governo vai ao chão", promete o seguinte. Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, junta-se ao desfile nos Anjos, à porta do Banco de Portugal, e não está tão convencido disso… “A luta vai ter de continuar”, garante.

Jerónimo recebe aplausos de algumas das pessoas que enchem os passeios para ver passar o desfile. Mas nota-se que, mesmo aqui, alastra aquele sentimento de rejeição da política, expresso em frases de desdém, e pouco imaginativos epítetos, como “aldrabões”.

Ainda assim, o desfile da CGTP é o ponto de encontro de boa parte da esquerda. João Semedo, do BE, e várias outras figuras políticas seguem Almirante Reis acima, nesta comemoração do Dia do Trabalhador. Dos partidos recém-criados MAS e Livre, aos instituídos BE e PCP.

Em Belém, na outra ponta da cidade, a UGT junta o resto do espectro partidário. Mas o encontro da central liderada por Carlos Silva não é tão expressivamente político. Há famílias que lá vão passear os cães. Há o “apita o comboio”. 

Desta vez, a UGT juntou os seus ex-líderes Torres Couto, João Dias da Silva e João Proença no palco, para assinalar o marco dos 40 anos de liberdade. Rute Pereira, de oito anos, agita uma bandeira com o símbolo da central, um aperto de mãos, “por piada”.

No palco, Carlos Silva fala da notícia do dia: "Ficámos estupefactos com a apresentação do documento de estratégia orçamental. Como é possível pensar sequer em aumentar o IVA?” "Se nunca puseram em causa a nossa disponibilidade para o diálogo, queremos afirmar que essa disponibilidade também se irá verificar na mobilização dos trabalhadores para a luta contra o esbulho de direitos", afirmou Carlos Silva.

Enquanto isso, o desfile da CGTP ainda percorre a mais cosmopolita das avenidas da capital. O restaurante Ali Baba, na esquina da Almirante Reis no Intendente tem uma "promoção anti-crise" que consiste numa sandes kebab por apenas 1,95 €. Mas esta é a altura em que o desfile clama por "soberania nacional". 

Os bombos Amarantinos, esses, têm uma expressão muito política quando assestam vigorosos pum-pum-pum-puns rua acima, de dentes arreganhados. E até um pequeno rapaz, numa trotinete, afina a garganta para o microfone de um carro de som "Fora, fora, fora daqui, a fome, a miséria e o FMI”.

Na Alameda, há cravos, bifanas, minis, mantas de pic-nic no chão. A faixa que cobre o palco exclama "Governo rua! Eleições já". Arménio Carlos, visto de longe, é um pequeno ponto, no palco instalado junto à reaberta fonte monumental da Alameda. 

Jornada de luta em marcha
O líder da CGTP começa por elogiar "os capitães de Abril", que acabaram com a "noite negra e sangrenta do fascismo". Explica que os "valores de Abril não são neutros nem inócuos", insurge-se contra a "ditadura das finanças", e lembra as palavras que antecedem uma das mais conhecidas linhas de guitarra da música de intervenção portuguesa: Liberdade, de Sérgio Godinho. "Só há liberdade a sério quando houver/ liberdade de mudar e decidir/ quando pertencer ao povo o que o povo produzir."

Na Alameda, o discurso de Arménio Carlos promete impedir que o Documento de Estratégia Orçamental siga o seu caminho. Usa uma imagem batida, "a raposa no galinheiro", para garantir que este pode ser o primeiro dia do aumento do IVA e dos cortes definitivos nas pensões, mas que a CGTP vai fazer tudo para que não haja resto da sua vida.

Arménio Carlos chama a Pedro Mota Soares "o ministro da mentira, da caridade e do assistencialismo", diz que Passos e Portas "mentem com todos os dentes que têm na boca", e quando começa a falar de Cavaco Silva ouve-se a maior vaia da tarde. "Vocês já vão ter oportunidade de assobiar mais, é só pararem um bocadinho", pede o dirigente sindical, para poder continuar a frase em que avisava o Presidente da República que não teria, ali, aliados para a sua ideia de consenso.

Pelo contrário. Em defesa da contratação colectiva, e do aumento do salário mínimo, a CGTP vai organizar uma "jornada de luta", que culminará a 27 de Maio, data em que se comemoram 40 anos da instituição de uma remuneração mínima mensal em Portugal. 

No mês seguinte, em Junho, a contestação promete aumentar. No dia 14, no Porto, e no dia 21, em Lisboa, a CGTP está a preparar manifestações, após vários dias de greves e protestos. Arménio Carlos cita António Aleixo. E termina: "É pelo novo mundo que aqui estamos."

Segue-se o hino da central, "unidade, unidade, unidade". A Internacional, "bem unidos façamos". E A Portuguesa encerra. Ficam grupos de amigos à conversa. As bancas dos sindicatos servem produtos nacionais. 

Em Belém, a tónica da UGT não é muito distinta. Bruno Teixeira, da juventude da UGT, foi o primeiro a discursar. “Hoje não podemos afirmar que estamos como dantes mas a democracia ainda não chega a todo o lado, sofremos consequências de outro tipo de ditadura - uma ditadura sem rosto e sem voz”. 

Lucinda Dâmaso, a presidente da UGT, reforçou a ideia de que “não nos podemos esquecer das conquistas que tivemos” há 40 anos atrás.

“Basta, basta, basta”. Carlos Silva terminou o seu discurso com um apelo aos portugueses – “votem no dia 25 de Maio. É na Europa que se tomam as decisões, é lá que queremos estar”.

Arménio Carlos tinha sido um pouco mais concreto, apelando ao voto nas eleições, como forma de “combater a política de direita”. 

Editado por Paulo Pena

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