Observar a cidade pelos olhos de Olivier Kosta-Théfaine

Começou no graffiti , mas hoje move-se no universo das galerias e museus de arte. O francês Olivier Kosta-Théfaine expõe na Underdogs, a plataforma lisboeta que deseja esbater fronteiras entre a arte desenvolvida em espaços interiores e exteriores.

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Uma galeria, um programa de arte pública e produção de edições artísticas exclusivas.

São estes os três vectores que guiam a actividade da Underdogs, plataforma que é também galeria de arte em Lisboa (rua Fernando Palha, nº 56), dirigida pela francesa Pauline Foessel e por Alexandre Farto, mais conhecido por Vhils.

No último ano e meio a plataforma tem convidado uma série de artistas (o italiano Pixelpancho, a dupla americana How and Nosm, os ucranianos Interesni Kazki, o colectivo americano Cyrcle ou o português Miguel Januário) para exposições individuais no seu espaço, ao mesmo tempo que são desafiados a lançar uma peça exclusiva em edição limitada e a conceber um mural na cidade. Um dos objectivos é criar espaço no panorama da arte para artistas ligados às novas linguagens da cultura visual urbana, esbatendo fronteiras entre a arte desenvolvida em espaços interiores e exteriores, e também fomentar esforços colaborativos entre artistas, agentes culturais, espaços expositivos e a cidade.

Desta feita o convidado foi o francês Olivier Kosta-Théfaine, de 42 anos, de quem foi inaugurada a exposição Ideal Standard, que estará patente no espaço até 26 de Abril. A viver em Paris, autodidacta, Olivier nunca frequentou nenhuma escola de arte, diz-nos. “A rua foi a minha verdadeira escola”, diz ele, por entre risos.

Como outros artistas que têm exposto na Underdogs, o francês é alguém que começou no graffiti clássico e que hoje se move com grande à vontade no universo canónico da arte contemporânea, tendo desde 1995 exposto em inúmeras galerias e instituições.

Mais do que técnicas ou princípios, o graffiti clássico, e depois as abordagens mais elaboradas em torno da street art, permitiram-lhe observar os detalhes da cidade, conhecê-la de perto, no limite, habitar os seus interstícios, os espaços de ruído e de silêncio.

“O graffiti permitiu-me ver a cidade de uma maneira muito diferente”, afirma. “No meu trabalho parto de elementos do espaço urbano, sejam detalhes insignificantes, ou então facilmente apreensíveis mas dos quais as pessoas não gostam, sendo considerados detritos da cidade, e transformo-os no espaço expositivo da galeria, atribuindo-lhes uma dimensão artística.”

Quando se entra no espaço da Underdogs não se vislumbram traços de graffiti ou de rua. O que há é um diálogo entre pinturas de diferentes formatos, predominando o tom branco, reprodução de detalhes de paredes com que o artista se cruzou no quotidiano.

Mas apesar de totalmente recriados, os elementos urbanos estão lá, de forma diluída ou refeita. “As minhas exposições acabam por constituir também uma oportunidade para os espectadores observarem a cidade de forma diferente”, argumenta Olivier, apontando para elementos devolutos do espaço urbano que foram recolhidos por ele.

“A ideia é reactivar elementos que encontro na rua e que acabam por originar esculturas ou pinturas. Nas pinturas acabo por operar a partir de detalhes que se repetem, acabando por adquirir uma forma clássica e abstracta.”

O projecto exterior foi concretizado perto da galeria, na zona de Braço de Prata. Não se trata de uma pintura mural, mas sim de uma intervenção com azulejo, que deverá ter sido ultimada num dos últimos fins-de-semana. Aliás a passagem por Lisboa acabou por ser produtiva, tendo recolhido muitos elementos da cidade.

Alguns acabaram por originar peças da exposição: é o caso da recriação de um muro de quintal, com vidros dispostos na parte de cima, que por norma servem de dissuasor para visitantes indesejáveis, com um limoeiro disposto do outro lado da parede. Qualquer coisa que acaba por ser característico de algumas zonas da cidade e onde Olivier foi descortinar “uma certa poesia.”

Ou seja, se um dos objectivos da Underdogs é convidar artistas internacionais e mergulhá-los na peculiar cultura visual de Lisboa, para que estes se sintam inspirados a produzir em galeria ou espaços exteriores, então é caso para dizer que a primeira apresentação de Olivier na cidade cumpre na perfeição com esses parâmetros.

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