Investigadores contestam integração do Arquivo Ultramarino na UL

Carta assinada por mais de cem académicos de vários países apela a que o Arquivo Histórico Ultramarino fique sob a guarda directa do Estado português

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Mais de uma centena de investigadores e professores universitários, abarcando instituições de 11 países, assinaram uma carta aberta contestando a anunciada intenção do Ministério dos Negócios Estrangeiros de integrar na Universidade de Lisboa (UL) o Arquivo Histórico Ultramarino (AHU).

O documento, em cuja lista de signatários estão representadas dez universidades portuguesas e 13 brasileiras, e ainda historiadores de diversos países europeus e dos Estados Unidos, defende que o AHU deveria ficar na dependência dos Arquivos Nacionais e recorda que os chamados “arquivos coloniais” estão “sob a guarda directa do Estado “ em todos os países da Europa.

Assinada por investigadores portugueses como António Manuel Hespanha, Joaquim Romero de Magalhães, Maria de Fátima Bonifácio, Paulo Varela Gomes, Francisco Bethencourt ou Diogo Ramada Curto, por antigos directores da Torre do Tombo – Bernardo Vasconcelos e Sousa e Miriam Halpern Pereira –, e ainda por alguns dos mais prestigiados especialistas estrangeiros na historiografia colonial portuguesa, como o francês René Pélissier, a carta lembra que o AHU “interessa também, directamente, aos países de língua oficial portuguesa” e constitui “um pólo de atracção da comunidade de pesquisadores de todo o mundo”.

Criado em 1931, com a designação de Arquivo Histórico Colonial, o AHU foi integrado, em Janeiro de 1974, na então chamada Junta de Investigações Científicas do Ultramar (JICU), entretanto rebaptizado Instituto de Investigação Científica e Tropical (IICT). Para Cláudia Castelo, da Universidade de Lisboa, uma das signatárias da carta aberta, essa decisão tomada nas vésperas do 25 de Abril foi “um erro”, já que, diz, o IICT, voltado para a investigação, não estava vocacionado para conservar e gerir um arquivo histórico desta natureza. Um argumento que vale também para a Universidade de Lisboa.

O IICT transitou em 2012 da tutela do Ministério da Educação para a dos Negócios Estrangeiros (MNE), que quer agora integrá-lo na UL, segundo anunciou há algumas semanas o ministro Rui Machete. Os investigadores, cuja carta aberta foi já enviada ao MNE, ao secretário de Estado da Cultura e a outras instituições, não contestam a integração do IICT na Universidade de Lisboa, mas defendem, explica Cláudia Castelo, que se devia “aproveitar para corrigir o erro de 1974 e retirar o AHU do instituto, colocando-o na dependência dos Arquivos Nacionais”.

 

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