Obediência

Obediência tem um problema do qual nunca se redime verdadeiramente, suficiente para manchar o que de, outro modo, seria um grande filme. Este notável exercício de manipulação desconfortável e perturbante, sobre uma empregada de um fast food que um polícia ao telefone acusa de ter roubado uma cliente, revela ao fim de 40 minutos a verdadeira identidade do responsável por uma partida de mau gosto que destrói duas vidas no espaço de um dia. Baseado em casos verídicos ocorridos nos EUA, a terceira longa de Craig Zobel prefere desvendar a identidade do “agente Daniels” porque a questão não está tanto na sua verdadeira identidade mas sim no que nos compele, a nós, a aceitar cegamente imperativos de autoridade e poder. Como quem diz que somos nós os culpados, que somos cúmplices do abuso. O desconforto do filme não desaparece, mas modera-se um pouco nessa revelação, mesmo que o poder de Obediência não saia diminuído por isso; faz, apenas, a diferença entre um filme que não recua perante nada e um filme que não leva aos limites a sua proposta. Ainda assim, nesse processo torna-se num dos mais estimulantes filmes americanos dos últimos anos.

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