É mês para isso

Os sinais de Primavera não são sinais: estão mesmo a acontecer. Ontem vimos as primeiras borboletas brancas e papoilas. Apareceram umas a seguir às outras e depois repetiram-se à beira da mesma estrada, poucos segundos depois: mais papoilas vermelhas e mais borboletas brancas, todas ainda um bocadinho transparentes, como quem acaba de nascer.

Nos telhados, os pombos enchem os peitos e saltitam ao lado das pombas, arrulhando decibéis impressionantes. Tal como as pessoas, passam o ano inteiro a tentar saltar uns para cima dos outros, mas, aparecendo o mês de Março, não há observador enregelado que perdoe: é mais um sinal de Primavera.

Diz-se que não há agora semana que não conheça um primor qualquer. Esta semana, nascidos e criados em Almoçageme, vimos e provámos os nabos mais bonitos e deliciosos das nossas vidas. As ramas eram fartas de folhas e mediam mais do que um metro. Cozidas eram melhores do que os melhores espinafres, sem acidez que se discernisse.

Apetecia pintá-los mais do que comê-los. Todos os nabos são diferentes, mas nestes muito bons, uma hora ou duas depois de arrancados da terra, há um em cada quatro que vai do céu da boca para os céus.

Pouco cozido e acompanhado pela rama, mais bem cozida, tempera-se só com azeite – e pimenta preta moída, admite-se.

É um monumento ao mês de Março: uma despedida do Inverno que ainda é um agasalho que se leva na barriga à procura da Primavera que nunca mais chega. Ao contrário dos sinais.

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