Para o PSD se regenerar é preciso "sair de cena quem está em cena", defende Capucho

Para o ex-militante, recentemente expulso, o PSD é hoje um "conjunto de oligarquias" fechado sobre si próprio e precisa de se "regenerar".

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Capucho não poupou nas críticas ao PSD num almoço em que Mário Soares marcou presença

António Capucho, recentemente expulso do PSD, disse no final de mais um almoço AAA (Animados Almoços Ânimo) na Associação 25 de Abril, que para o PSD se conseguir regenerar “de dentro para fora” é preciso “sair de cena quem está em cena” no partido. No debate que se seguiu ao almoço, onde Mário Soares fez questão de marcar presença, o ex-militante social democrata falou de tudo, de si, do PSD, dos partidos e do panorama da política nacional.

Depois do debate, em conversa com os jornalistas, António Capucho revelou que foi convidado a encabeçar a lista de um partido em formação para as eleições europeias, partido sobre o qual nada quis adiantar, nem quem são os protagonistas. O partido em formação de que o ex-militante do PSD fala “vai aparecer em cena política muito brevemente”, afirmou.

Não se trata, portanto, de nenhum dos partidos recém- formados já tornados públicos. Tratar-se-á de um partido “reformista” posicionado algures entre o partido social-democrata e o partido socialista, de acordo com o ex-militante.  

Durante o debate, Capucho fez um roteiro por diversos temas, abordando assuntos como a sua “rota de colisão” com o partido que ajudou a fundar. Apontando o dedo à estrutura interna do partido, caracterizou a atitude de Passos Coelho de não apoiar os candidatos naturais às autarquias como uma “estupidez” e um “erro político”. E essa atitude do líder do PSD "legitimou a rebelião que se verificou" depois no partido.

Falou da degradação dos partidos políticos – os “pilares da democracia” – e a necessidade de estes se regenerarem de “dentro para fora”, para que se tornem mais abertos e democráticos. Para António Capucho, o PSD, “salvo algumas honrosas excepções, é um conjunto de oligarquias, fechadas sobre si próprios, desviando-se da sociedade e da matriz ideológica que deveriam defender, sem prestar contas à população ou disfarçando essa prestação de contas”.

E vai mais além na crítica quando se refere à existência de militância “barata” e de “barrigas de aluguer” no interior do partido. “Não é admissível que num partido com a dimensão do PSD, os militantes paguem 1 euro por mês de quotas, e que depois sejam os contribuintes a financiar o partido, seja para as campanhas eleitorais, seja para a actividade normal ou para a Assembleia da República”.

O ex-secretário-geral dos social-democratas afirmou que é muito fácil encontrar pessoas que “a troco de muito pouco vão votar”, e exemplifica: “É como ir a um banco e pagar de rajada 100 quotas dos outros”, acusou.

Passou também pelo memorando de entendimento, que considerou ter sido assinado “quase de olhos fechados”, acrescentando que este tornou a dívida portuguesa insustentável e que deveria ter sido renegociado assim que se percebeu que a “dose brutal de austeridade ia dar asneira”. Mostrou-se indignado com a distribuição “escandalosa” dos sacrifícios, que afectam sempre os mesmos: pensionistas e funcionários públicos são “alvos da fúria daqueles senhores”, destacou António Capucho.

Abordou a reforma do Estado, que chegou de forma tardia e “nublosa”. Teceu considerações à actuação do Presidente da República (PR), nomeadamente aquando da demissão irrevogável de Paulo Portas –  “Foi uma pena que o PR não tenha mandado aqueles meninos para casa”.

No seu entendimento, a reforma do Estado – que surgiu de forma “nublosa” e “com laivos neoliberais” – tardou e deveria ter sido feita logo no início da legislatura. “Quando finalmente apareceu um guião para a reforma, o conteúdo era pouco mais que zero”. Para António Capucho, a única reforma que o primeiro-ministro quer fazer tem a ver com a lei eleitoral para a Assembleia da República, através da “redução drástica do número de deputados”. 

Sobre o programa cautelar e a necessidade de consenso político que Pedro Passos Coelho tem pedido, o ex-militante do PSD questiona: “A três meses de eleições, estar a pedir consensos políticos sobre aquilo que ele [Passos Coelho] não sabe o que é, sem que o próprio PSD tenha um programa para a reforma do Estado e sem um programa pós troika definido (…) são acordos sobre o quê e para quê?”

O ex-militante social-democrata defende a urgência de alterações legislativas nas leis dos partidos, para permitir as candidaturas independentes. “Se a lei eleitoral for alterada, para a Assembleia da República e para as autarquias, mas também para o Parlamento Europeu, no sentido de criar círculos uninominais, é evidente que a qualidade média dos deputados terá de aumentar”, sustentou. A seu ver, a lei tal como está hoje em dia, faz com que os eleitores não façam a mínima ideia de quem são os deputados que os representam.

Sobre o XXXV Congresso Nacional do PSD, António Capucho frisou que não faz intenções de segui-lo, até porque já está “tudo definido” à partida, sublinhando que isso resulta da aplicação das eleições directas nos partidos, que se revelou “perversa”. “Já sei qual é a moção estratégica que vai ganhar – a moção de Passos, que é um auto-elogio do princípio ao fim".

Para Capucho, os congressos são “uma sucessão de monólogos, onde falam quatro ou cinco figuras do partido. São uma chatice monumental, uma perda de tempo”.

Quanto ao seu futuro partidário, o ex-parlamentar social-democrata afirmou que vai continuar independente na Assembleia Municipal de Sintra, afasta a possibilidade de integrar um novo partido, mas não descarta a hipótese de voltar ao PSD, quando se der a “regeneração” do partido, embora reconheça a “dificuldade” dessa regeneração.

 

 

   

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