“O país não depende do PS, mas gostaríamos de contar com o PS”

Segunda parte da entrevista com o ministro Miguel Poiares Maduro.

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Ministro diz que PSD não definiu uma meta para as eleições europeias de 2014 Miguel Manso

Leia aqui a primeira parte, sobre o futuro da RTP, dossier que o mesmo governante também tutela.

O que falhou nos briefings?
É o que eu chamo as condições de uma tempestade perfeita. Continuo a achar que precisamos de uma cultura de comunicação política diferente em Portugal e que os briefings podiam ser um meio para isso. Se comparamos com outros países, o nosso jornalismo político depende em excesso do off. Os briefings eram uma forma de tentar diminuir o peso do off. Devido a uma série de coincidências. Desde logo o azar de os dois primeiros briefings terem coincidido com duas demissões dentro do Governo. Isso determinou que se gerasse um enorme ruído à volta dos briefings. Como temos uma cultura política muito resistente às mudanças, não ia funcionar. Os briefings deixaram de ser o instrumento da comunicação política e passaram a ser o objecto da comunicação. Eu não sou uma pessoa para insistir numa coisa que não está a funcionar.

Acha que há um partido na coligação que tem uma política de comunicação própria?
A coordenação política não se esgota na comunicação da mensagem política do Governo nem acho que isso seja o fundamental. O fundamental é termos uma melhor articulação e integração de políticas públicas e temos uma cultura legislativa e administrativa que torna isso difícil. Mas estamos a tentar mudar e estamos a mudar. E vamos reforçar ainda mais os mecanismos dessa integração e articulação, até entre os diferentes níveis do território e quanto a isso vamos ter novidades em breve. Quanto à comunicação política do Governo, já acho que é passada de uma forma bastante  harmoniosa. O que se identificava no passado, de haver mensagens dissonantes, deixou de existir.

Isso não é o resultado da crise de Julho?
O Governo saiu mais coeso e sólido dessa crise e isso é importante para o país e em termos da nossa credibilidade externa. Foi uma prova que os dois partidos da coligação superaram com sucesso.

O CDS saiu reforçado dessa crise…
O Governo saiu reforçado.

A representatividade do CDS no Governo é superior ao seu peso eleitoral?
Não entendo que o CDS tenha saído com maior representatividade do que o seu peso eleitoral. O que houve foi uma melhor distribuição de pelouros e áreas sectoriais dentro do Governo e um reforço dos mecanismos de articulação. É por isso também que o Governo saiu mais reforçado.

Em Outubro ficou decidido que iria haver conselhos de ministros especiais, de índole económica, dirigidos pelo vice primeiro-ministro. Já aconteceram?
Não são conselhos de ministros especiais. Há reuniões que envolvem os diferentes ministérios com áreas sectoriais com impacto na economia porque é importante reforçar a articulação das áreas sectoriais. Do mesmo que neste momento estamos a organizar, quanto às políticas do território, um calendário de reuniões entre a Associação Nacional de Municípios e diferentes membros do Governo. A coordenação não se esgota na comunicação e temos reforçado a articulação das políticas públicas e as diferentes áreas sectoriais do Governo.

Ainda quanto à articulação entre os dois partidos, considera positivo que concorram juntos às legislativas de 2015?
Não me vou pronunciar sobre isso. No tempo certo exprimirei a minha opinião dentro do meu partido.

Mas tem algum tipo de reservas?
Não tenho qualquer tipo de reserva nem qualquer posição a anunciar ou qualquer posição fechada.

Qual é a meta para a coligação nestas eleições?
Não há meta definida.

Será sempre ganhar?
Queremos sempre o melhor resultado eleitoral possível. Queremos apresentar aos portugueses uma mensagem europeia forte e propostas concretas para a Europa. Temos de agir em Portugal com a Europa que temos e não com a que desejávamos ter. Isso não nos deve impedir de querer uma Europa diferente. Não podemos é querer defender para Portugal políticas que não se coadunam com o que a Europa é hoje, que é o que eu acho que o PS frequentemente faz. Temos que ser realistas em Portugal quanto à Europa, mas temos que defender na Europa um projecto ambicioso. Isso passa pela necessidade de disciplina orçamental complementada por uma maior capacidade orçamental da EU, por uma união bancária e por um reforço dos instrumentos de intervenção financeira.

Qual é a melhor solução para o pós-troika? Programa cautelar ou saída limpa?
A melhor solução será definida no tempo certo. Não temos que tomar a decisão agora e devemos fazê-lo no tempo oportuno e de acordo com os dados relevantes nessa altura. É o que o Governo tem vindo a dizer.

Atirar a decisão para Maio não condiciona a solução no sentido de uma saída limpa?
O Governo não definiu um calendário, disse apenas que tomará a decisão no momento certo, em conjunto com os parceiros europeus. O que é importante notar é que o país está em condições de discutir isso. Antes discutia-se se iria fechar o programa de assistência económica e financeira ou se iria haver um segundo resgate. Hoje discutimos se haverá uma saída à irlandesa ou um programa cautelar e qual delas é a melhor para o país.

Quando tomou posse insistiu muito no tema do consenso, que continua a ser vista como a principal fragilidade do país a nível internacional. O que tem o Governo feito nesse sentido? Dizer, como fez o primeiro-ministro, que um programa cautelar é possível sem a assinatura do PS não significa desvalorizar o consenso?
O que o primeiro-ministro disse é que a participação do PS não é exigida, mas é desejável. O primeiro-ministro gostaria de contar com ela. O país não depende do PS para isso, mas gostaríamos de contar com o PS. Quanto à questão mais ampla do PS, nas áreas sectoriais em que estou envolvido continuarei a fazer um esforço nesse sentido porque acho que é esse tipo de cultura política que o país necessita. Numa democracia evoluída, por muito forte que seja o antagonismo entre forças políticas, isso não deve impedir que o Governo e a oposição não procurem consensos onde eles sejam importantes ou possíveis.  Uma democracia necessita de antagonismo mas também necessita de cooperação. Temos que ter essa maturidade democrática.

Como querem contribuir para isso quando há vozes do PSD e do Governo que todos os dias criticam o PS? Esse estado de sítio é constante…
Não vou começar a dizer aqui quem é que disse primeiro mal do outro, porque isso é um comportamento infantil em termos democráticos. Numa democracia evoluída, não é necessário não haver confronto para que possa haver margem para fazer compromisso.

Vão convidar o PS para a comissão do IRS?
Já em várias matérias solicitámos a participação do PS. Quando for esse o caso, iremos fazendo esses apelos, publicamente ou de forma reservada.

É militante do PSD? Vai ao congresso?
Sim. Só que sou um verdadeiro militante de base e ninguém sabia que eu era do PSD. Vou ao congresso.

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