Pais dos jovens que morreram no Meco ponderam constituir-se assistentes no inquérito-crime

Familiares reúnem-se este sábado antes da cerimónia de homenagem aos filhos na Praia do Meco.

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Pais dizem que não "querem atrapalhar o trabalho da justiça"

Os pais dos seis estudantes da Universidade Lusófona que morreram após terem sido colhidos por uma onda, na Praia do Meco, estão a ponderar constituírem-se assistentes no inquérito-crime aberto pelo Ministério Público para perceber melhor a causa de morte dos jovens. Os familiares vão reunir-se este sábado antes da homenagem aos filhos, marcada para as 15h30, devendo decidir se contratam um advogado em conjunto e se se constituem assistentes no processo.

Esta figura permitirá aos familiares estar a par do que se passa nos autos e pedirem, por exemplo, a realização de diligências. “Ainda não decidimos, mas em princípio é para avançar. Isto não pode ficar assim. Nada vai trazer a minha filha de volta, mas esclarecer o que se passou pode impedir que futuramente ocorram mais desgraças”, afirma Mariana Barroso, que perdeu a única filha, Joana, no incidente.

A mãe de Catarina Soares, Fernanda Cristóvão, também quer perceber o que se passou na noite do acidente. “Preciso de saber o que se passou com a minha filha desde que ela saiu de casa até ao momento da tragédia”, admite. Até agora, não falou com os amigos da filha, nem tentou investigar o que se passou. “A única coisa que tentei saber era se conseguia aceder ao código ético das praxes”, revela Fernanda Cristóvão, que se recusa a fazer especulações sobre o que aconteceu naquela noite ou a apontar o dedo a alguém.

Mariana Barroso confessa-se confusa e lamenta que haja “tanta coisa misteriosa” neste caso. “Estranho que eles não tenham levado pijamas. Também não percebo porque sem a nossa autorização deixaram tirar os objectos pessoais deles do apartamento onde ficaram e os levaram para a Lusófona”, exemplifica a mãe de Joana.

Colegas da faculdade não falam
Não saber o conteúdo das praxes que se terão realizado naquele fim-de-semana também a incomoda. E queixa-se que os colegas da faculdade da filha não falam. “Está tudo envolvido em secretismo”, critica. “Dizem só que eram tudo brincadeiras para elas se tornarem mais mulheres”, refere Mariana Barroso, que não sabe especificar bem o teor das praxes, que passariam por provas de resistência.

Quem poderá retirar algumas das dúvidas sobre o que se passou é o único sobrevivente do acidente, explicando nomeadamente porque os sete estudantes foram para a praia de traje académico, percorrendo cerca de sete quilómetros a pé. João Gouveia, Dux que lidera a comissão de praxes, vai ser ouvido em breve pela Polícia Marítima (PM) de Setúbal em quem o Ministério Público delegou a audição. “Já recebemos a solicitação e já nomeamos um agente da secção de Justiça para a realizar”, explica fonte oficial da PM de Setúbal, que não sabe se o interrogatório já está agendado. “Não foi apresentada qualquer queixa por parte dos familiares dos jovens falecidos, tendo apenas um familiar efectuado um requerimento solicitando que o jovem sobrevivente fosse inquirido a fim de relatar o que aconteceu no dia dos factos. O Ministério Público ordenou a inquirição, na qualidade de testemunha, do sobrevivente”, refere a Procuradoria-Geral da República, que adianta que "não existem, por enquanto, quaisquer elementos que indiciem a prática de crime".

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