Margarida

Foto

Morreu a Margarida Santos Carvalho. Tinha 67 anos, uma vida dedicada ao ensino, e não era uma figura pública. Mas era uma pessoa bela e há pessoas belas cuja memória merece ser noticiada.

Lembro-me como hoje do dia em que conheci a Margarida. Já a tinha encontrado antes, mas foi naquele dia que a conheci. Um dia de Abril, um dia de sol. Como jornalista do PÚBLICO fui à escola Fernão Lopes, onde a Margarida Santos Carvalho era professora, para fazer uma reportagem sobre a forma como se ensinava o 25 de Abril às crianças e aos adolescentes, nas escolas portuguesas. O trabalho da Margarida, no âmbito da experiência pedagógica da" Escola Cultural," era considerado exemplar. Sob sua orientação, os alunos tinham preparado uma peça de teatro, uma exposição de pintura, declamação de poesia. E o entusiasmo da Margarida quase que superava o dos alunos. Olhos sorridentes, orgulho contido e aquele prazer de se dedicar às coisas simples e belas que bem a caracterizava.

Naquele dia de Primavera, eu conheci na Margarida o exemplo do que todo o professor deveria ser. Só se transmite bem o que se ama. E era precisamente nesta base, na transmissão do conhecimento através das emoções e da relação com os alunos, muito mais do que na avaliação, que a Margarida trabalhava. Terá sido por isso que Agostinho da Silva confessou um dia o prazer que sentira em participar na experiência da "Escola Cultural" que envolveu 200 alunos e dez anos mais tarde foi tema da tese de mestrado da Margarida.

Formada em filosofia, mestre em Educação, ensinou também no Liceu de Macau.

A Margarida gostava das coisas belas com um entusiasmo e um sentido de humor contagiantes, tinha um apurado sentido de justiça e uma criança dentro dela que sobreviveu a todas as agruras da vida até ao fim.

Por isso sinto hoje com a sua morte uma incorrigível tristeza. Sei, porém, como ela sabia o que já escrevia Sophia de Mello Breyner: "Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta/ continuará o jardim, o céu e o mar/ e como hoje igualmente hão-de bailar as quatro estações à minha volta (...) outros em Abril passarão no pomar / em que tantas vezes passei... (...)"

A Margarida Santos Carvalho era casada com o juiz conselheiro do Tribunal de Contas António Santos Carvalho e tinha três filhos. Estará hoje em camara ardente nas capelas mortuárias da Igreja da luz, em Carnide, a partir da 16h30. A missa de corpo presente será amanhã, dia 2, às 14h00, na igreja do Seminário da Luz, em Lisboa.
 
 

Sugerir correcção
Comentar