Turismo aumenta em Coimbra com classificação mas visitas são muito rápidas

O presidente da Região de Turismo do Centro disse que meio ano após a classificação "há sinais muito evidentes" de maior valorização do legado. Mas ainda não há números gerais sobre aumento.

Fotogaleria
Sala dos Capelos da Universidade de Coimbra Nelson Garrido
Fotogaleria
Biblioteca joanina da Universidade de Coimbra Nelson Garrido
Fotogaleria
Pátio das Escolas da Universidade de Coimbra Nelson Garrido
Fotogaleria
Sé Velha de Coimbra Nelson Garrido
Fotogaleria
Alguns proprietários das lojas queixam-se que os turistas passam mas não entram Dato Daraselia
Fotogaleria
O Pátio da Inquisição Adriano Miranda
Fotogaleria
Dato Daraselia

A Universidade de Coimbra registou um aumento de 30% no seu roteiro turístico nos primeiros seis meses desde a classificação de Património Mundial, mas os comerciantes queixam-se de os turistas terem uma passagem curta pela cidade.

Foi no dia 22 de Junho que o 37.º Comité da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), reunido no Camboda, decidiu integrar o conjunto Universidade de Coimbra - Alta e Sofia na lista de monumentos, sítios e outros valores culturais considerados Património da Humanidade.

O circuito turístico da Universidade de Coimbra, em que se visita o Paço das Escolas, "é o centro de maior atracção da região", salientou Luís Menezes, vice-reitor da universidade na área do turismo. Registou, de acordo com o responsável, um aumento de 121 mil visitantes em 2012 para 159 mil em 2013, no período entre Junho e Novembro. "O fluxo de turismo para o país tem vindo a aumentar", sendo que a intervenção da universidade "atraiu mais turistas", contou Luís Menezes.

O esforço da universidade prende-se, agora, em "diferenciar os produtos a oferecer", avançou o vice-reitor, afirmando que os turistas que não compram o bilhete para o circuito do Paço são "o dobro" dos que entram nos espaços da universidade.

Sé Velha com mais visitantes

João Evangelista, pároco da Sé Velha há 38 anos, salientou que houve "um aumento indiscutível" nas visitas ao monumento, notando-se uma maior diversidade de nacionalidades a visitar Coimbra.

Tânia Silva, proprietária de uma loja de recordações ao lado do edifício românico, queixou-se de que os turistas "passam mas não entram", registando uma quebra de "cerca de 50% nas vendas". O visitante "é levado até ao largo da universidade e depois segue caminho", contou Tânia, criticando a falta de "actividades para atrair turistas" e de "infraestruturas que os prendam a Coimbra". "Precisamos do turista que fica um ou dois dias", reiterou.

Para Ofélia Henriques, funcionária de uma loja de recordações na Rua Ferreira Borges, "nota-se mais turismo, mas é o turismo de pé rapado". Apesar disso, "há um aumento de vendas em relação ao ano passado", com a cerâmica de Coimbra e o galo de Barcelos a serem os produtos mais vendidos. A lojista referiu que se poderia vender mais, mas as passagens rápidas "não dão tempo para irem ao comércio, que, assim que um turista entra na loja, o grupo continua à mesma o percurso e ele sai sem comprar, para poder acompanhar a visita".

A pressa estava patente em Oleksandr Lenko, guia de um grupo de russos, ucranianos e bielorrussos, que não se iria demorar mais de duas horas em Coimbra, estando a caminho de Lisboa. De passo rápido, apenas disse que os turistas "gostavam muito" de Coimbra, despedindo-se, sem mais tempo.

Julia, russa de 22 anos, de máquina fotográfica a tiracolo, afirmou que estava "encantada com a Biblioteca Joanina". Mas a sua visita, com guia, era também de apenas duas horas, tendo só tempo para dizer que Coimbra "seria um sítio muito bonito para estudar", enquanto o grupo já se afastava.

História diferente foi a de Justino Katone, angolano a viver em Paris, numa passagem com mais calma, com a mulher e o filho, para revisitar a cidade que tinha visitado há 43 anos. Apesar do "encanto", apenas soube que Coimbra era património da humanidade assim que viu "o dístico [da classificação] pela cidade". "É para matar as saudades", disse, considerando que se Coimbra "foi uma surpresa" quando a visitou pela primeira vez, continua a sê-lo, apesar de "algumas coisas terem mudado".

Maior mobilização

O presidente da Turismo do Centro, Pedro Machado, disse à Lusa que meio ano após a classificação "há sinais muito evidentes" de maior valorização deste legado pelas entidades locais: "Há uma maior mobilização dos agentes locais, desde logo a Universidade de Coimbra, a autarquia, os restaurantes, os hotéis, os serviços e o comércio."

Apesar de ainda não haver dados actualizados disponíveis sobre um eventual aumento dos fluxos de turistas na cidade e na região, nos últimos seis meses, "percebe-se hoje que há uma maior mobilização dos agentes locais", o que, segundo Pedro Machado, se reflete "nas ruas, nos restaurantes ou nos hotéis".

"Está a ser trabalhada pela equipa do reitor e dos vice-reitores a programação de novos pacotes turísticos para a cidade e para outros agentes também, cujo epicentro recai sobre a Universidade, com a chancela da Unesco", referiu. Pedro Machado disse ainda que a Universidade de Coimbra irá fazer parte de uma "rede de património mundial" da Região Centro, um projecto que incluirá o Mosteiro da Batalha, que obteve idêntica classificação da Unesco em 1983.O programa do 30.º aniversário dessa classificação foi apresentado no sábado.

O roteiro a criar "vai tornar possível uma relação" de Coimbra "com outras cidades e outros monumentos" da região que são Património Mundial da Unesco, como Tomar, Batalha, Alcobaça, ilhas Berlengas e Geopark Naturtejo, os dois últimos na área do património natural, afirmou o presidente da Turismo do Centro.

"Coimbra beneficiará, seguramente, e as outras cidades também vão beneficiar com o facto de Coimbra estar a lançar-se nesse projecto", sublinhou. Pedro Machado realçou também "um trabalho que se está a iniciar entre as secretarias de Estado do Turismo e da Cultura", para que estas duas áreas, "a partir daqui, possam trabalhar em conjunto".
 

Sugerir correcção
Comentar