Esta manhã todos os caminhos do protesto foram dar ao Parlamento

Manifestantes contestam a aprovação do Orçamento do Estado para 2014 que acontece ao final da manhã na Assembleia da República.

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Por todo o país estão marcadas, durante o dia, várias acções de protesto contra a aprovação do OE2014 Daniel Rocha

Os manifestantes vindos de vários locais da cidade de Lisboa chegaram ao largo em frente ao Parlamento faltavam poucos minutos para as 11H. Muitos assobios, palavras de ordem e cartazes com um único alvo: o Governo. Que esta terça-feira faz aprovar na Assembleia da República o Orçamento para 2014, contestado nos protestos.

Foram "muitos, muitos mil" os trabalhadores, reformados e jovens que vieram de todo o país dizer um sonoro "basta" ao executivo liderado por Pedro Passos Coelho. A organização da CGTP não avança com números oficiais "porque a iniciativa não se realiza apenas em Lisboa". Armando Farias, coordenador das manifestações da CGTP, fala em "muitos milhares de trabalhadores". O Comandante da PSP, presente no local, também não quis adiantar números mas um agente da falava "por alto" em mais de 10 mil pessoas.

O pequeno largo ao fundo da escadaria do Parlamento tornava-se exíguo para as marchas que ali chegavam. O líder do PCP, Jerónimo de Sousa, e alguns deputados comunistas desceram até junto dos manifestantes. Num palco improvisado ao fundo das escadas, já discursou João Barreiros, da InterJovem, o líder da CGTP, Arménio Carlos, fez a segunda intervenção do dia.

O secretário-geral da CGTP-IN até tinha um discurso escrito mas foi muitas vezes de improviso que se dirigiu aos milhares de trabalhadores, jovens e reformados neste “Dia Nacional de Indignação, Protesto e Luta”, que nas palavras de Arménio Carlos é ainda “o dia da rejeição deste governo e das suas políticas de direita”.

Para o líder sindical o Orçamento do Estado para 2014, é o retrato de uma política que “aprofunda a exploração enquanto aumentam os multimilionários”, “que corta nas pensões e rasga o contrato social” e privilegia “sempre os mesmos”, referindo-se aqui ao grandes grupos empresariais e económicos, “os Mellos, os Espírito Santo, o Jerónimo Martins, o Belmiro de Azevedo, o Banif, o BPI, o BPN e companhia limitada”.

No seu discurso, Arménio Carlos dirigiu-se ao Presidente da República apelando para que este “por dever moral e em nome do superior interesse nacional” solicite ao Tribunal Constitucional a fiscalização do Orçamento de Estado que vai ser aprovado hoje pela maioria parlamentar PSD-CDS.

Nas palavras do líder da Intersindical a concentração de hoje não pretende apenas rejeitar o Orçamento, rejeita também o Guião da Reforma do Estado “apresentado com pompa e circunstância pelo vice-primeiro-ministro”. Mencionado o nome de Paulo Portas os gritos de demissão, os assobios e os apupos subiram de tom, a indignação era visível nos rostos que ouviam atentamente o líder sindical. “Tem muita parra mas tem uvas venenosas”, foi desta forma que Arménio Carlos caracterizou o Guião, acrescentando que o documento “entra em rota de colisão com a Constituição, com os serviços públicos e ataca os alicerces da democracia”.

O secretário-geral da CGTP reafirmou a necessidade de continuar a lutar pelo aumento do salário mínimo, pelo aumento das pensões mais baixas, “pela dignidade humana”, pelo fim dos “cortes cegos” e pela soberania popular, não deixando de se referir ao “injusto” aumento do horário da função pública para 40H semanais. “O tempo é de acção, reivindicação e luta”, vociferou entre aplausos e gritos de demissão dirigidos ao Governo.

Na recta final da sua intervenção e mencionando indirectamente a polémica manifestação das forças de segurança,  Arménio Carlos esclareceu, “Não, não queremos subir as escadas, o nosso objectivo é alterar a relação de forças dentro do Parlamento demitindo este governo e convocando eleições antecipadas”.

Ao PÚBLICO, o líder sindical reafirmou a posição de “discordância absoluta” em relação ao aumento da carga horária da função pública para 40H semanais que o Tribunal Constitucional deixou passar. Na opinião do líder da CGTP não há qualquer convergência entre a função pública e o privado na medida em que o Código de Trabalho impõe um máximo de 40H semanais e há “subsectores de actividade e muitas empresas com horários inferiores”, referindo-se à medida como “discriminação”.

Arménio Carlos vai mais longe e diz que a medida viola a carta dos direitos humanos, lembrando que o “a conquista do horário de trabalho é secular” e que uma medida “que assenta na justificação da despesa pública” vai ainda ser mais dispendiosa porque os serviços vão manter-se abertos mais horas e os encargos com electricidade e segurança vão aumentar.

O secretário-geral da Intersindical considera que o Governo deu mais uma vez um mau exemplo, isto porque “não temos na Europa nenhum país que esteja neste momento a aumentar o horário de trabalho” e reassume que “a luta pelas 35H é mesmo para valer e portanto os trabalhadores vão continuar a fazer as 7H e procurar assegurar as 35 horas semanais”.  


Da concentração que reuniu milhares de portugueses em frente ao Parlamento, sai nova semana de luta e protesto por todo o país. De 16 a 20 de Dezembro serão muitas as acções públicas pelo aumento do salário mínimo, pelo direitos laborais e pela dignidade humana. Para o dia 19 de Dezembro está agendada uma grande concentração às 18.30H frente à residência oficial do Presidente da República em Belém. 

Há bandeiras e cartazes, apitos e apupos. Juntaram-se funcionários do sector público e do privado. Há trabalhadores da base do Alfeite, do call center da EDP, da Brisa, do MacDonald's, do Pingo Doce, ao lado de professores, trabalhadores da limpeza de câmaras municipais, professores. Vêm de Lisboa, mas também de Serpa, Montemor, Leira, Évora, Beja.

Em vários locais de Lisboa concentraram-se os protestos organizados pelos sindicatos que estão já a confluir para o pequeno largo em frente ao Parlamento. A aprovação do Orçamento do Estado para 2014 é o principal argumento das manifestações.

O toca a reunir implicou concentrações em vários largos emblemáticos de Lisboa. Centenas de pessoas reuniram-se no Largo Camões (Chiado), Largo da Estrela, Largo do Rato, Largo de Santos e Largo Trindade Coelho (Bairro Alto) e saíram depois em direcção ao Parlamento.

Estas manifestações foram marcadas pelo secretário-geral da CGTP no dia 1 de Novembro, quando a central sindical liderada por Arménio Carlos reuniu junto à escadaria do Parlamento cerca de cinco mil manifestantes.

Na Estrela juntaram-se trabalhadores vindos dos distritos de Leiria, Santarém e da região alentejana. No Largo do Rato, em frente à sede do PS, reuniram-se reformados e pensionistas.

O Largo Camões, ao Chiado, foi o escolhido para a concentração dos trabalhadores do distrito de Lisboa, incluindo os funiconários do município lisboeta, mas também todos os trabalhadores da administração local, os trabalhadores das indústrias transformadoras, energia e actividades do ambiente, os funiconárias da transportadora Vimeca e da Carris, e os professores da Grande Lisboa. Os manifestantes desfilam organizados por sectores, atrás das faixas dos respectivos sindicatos, onde se lêem palavras de ordem. Grita-se "É preciso, é urgente correr com esta gente!"; "Fartos de aldrabões, queremos eleições!" ou ainda "Governo imoral quer dar cabo de Portugal!".

Adelino Torres, de 73 anos diz ao PÚBLICO que nunca pensou ter de voltar a manifestar-se na rua. "Mas este Governo precisa de ir ao chão porque rouba tudo o que pode. Assim já não dá para viver", queixa-se o reformado. Joana Santos, de 49 anos, é funcionária pública e tem desde ontem mais um motivo para protestar. "Soube ontem que vou ter de trabalhar 40 horas por semana, quando me vão roubar mais 5% do ordenado. Isto é escravatura", lamenta.

"Não é hora de olhar à cor política"
Um pouco mais acima na mesma colina, o Largo Trindade Coelho foi o ponto de encontro para os jovens. Miguel Pais, de 27 anos, é um estreante nestas andanças das manifestações porque considera que "é tempo das pessoas se unirem contra este Governo". Diz ter estudado "anos a fio e o que têm para me oferecer é o desemprego".

Também Deolinda Granja, de 43 anos, veio para a rua pela primeira vez. Nunca pensou participar num protesto, "muito menos da CGTP. Mas não é hora de olharmos à cor política; é hora de nos unirmos para derrubar este Governo."

Professora contratada de físico-química, Joana Filipe, de 33 anos, está actualmente desempregada. "não posso ter uma família porque não tenho condições para isso. Querem dar cabo da nossa vida e do nosso país", afirma, indignada. "Quero pedir ao senhor ministro Crato o mínimo de respeito!"

No Largo de Santos, concentraram-se os trabalhadores do distrito de Setúbal, mas parte deles demorou mais por ter ficado retida no trânsito para atravessar a ponte 25 de Abril, depois de terem participado em diversos protestos em Almada e Seixal.

O grupo que vinha o Largo Camões esperou pelos de Santos  para entrar na pequena praça junto ao Parlamento. "Para que a nossa marcha tenha mais força", diz um dos organizadores, responsável pelo megafone, aos restantes manifestantes.

Do Campo das Cebolas, junto a Santa Apolónia, também saiu um protesto dos taxistas. Além das buzinadelas, houve palavras de ordem e cartazes. “Eu salvei o BPN, quem me vai salvar a mim?” ou “Trabalho sim, falências não!”.

O trânsito foi cortado em diversas artérias na baixa lisboeta e formaram-se enormes filas em marcha lenta a buzinar.

Em Coimbra, a FENPROF faz a queima simbólica do OE à porta da Escola da Pedrulha, porque, afirmou Mário Nogueira, este Governo está a destruir a escola pública com o “corta, corta, corta, até à asfixia” de todo o sistema de ensino.

Por todo o país estão marcadas, durante o dia, várias acções de protesto contra a aprovação do OE2014.

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