O mês de escrever furiosamente

De 1 a 30 de Novembro, milhares de pessoas em todo o mundo passam os seus dias a escrever para atingir a meta de 50 mil palavras que o site do Nanowrimo define como o mínimo necessário para se ter o manuscrito de um romance

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Rock Portrait Photography

Nanowrimo é a sigla de National Novel Writing Month (Mês Nacional de Escrita de Romances) e esse é o seu conceito: de 1 a 30 de Novembro, milhares de pessoas em todo o mundo passam os seus dias a escrever para atingir a meta de 50 mil palavras que o site do evento define como o mínimo necessário para se ter o manuscrito de um romance.


A iniciativa nasceu em 1999 às mãos do norte-americano Chris Baty e de alguns amigos, e hoje envolve quase 300 mil participantes em cerca de 90 países. Não é um concurso literário, pois o único prémio é a satisfação pessoal de ter escrito 50 000 palavras dentro do período definido, e não existe qualquer apreciação do valor literário dos originais, mas não deixa de suscitar controvérsia no mundo literário. Os seus apoiantes consideram que fomenta o interesse pela literatura, maior percepção das dificuldades de escrever ficção e a democratização da própria escrita. Os detractores apontam os milhares de originais ilegíveis que jorram nas caixas de correio das editoras a partir de Dezembro e as poucas obras de mérito que o evento produziu até hoje.


O evento minimiza, na verdade, a literatura à sua quantificação numérica e reduz a escrita ao acto mecânico, sendo indiferente à reflexão prévia e revisão posterior que escrever implica, e ao diálogo cultural e artístico que a literatura séria procura estabelecer.


Mas há algo de significativo numa iniciativa que lança milhares de pessoas numa escrita vertiginosa durante um mês inteiro. Os numerosos "chats" e fóruns que o evento suscita tornam a participação no Nanowrimo numa actividade social, que gera a euforia e o sentimento de pertença que os esforços colectivos produzem, não deixando todavia de salvaguardar a natureza da escrita como manifestação do eu individual. Ao mesmo tempo o evento associa-se ao prestígio social da literatura, apresentando, contudo, metas concretas, atingíveis, sem competição nem julgamento crítico, que permite aos seus participantes tomar parte sem temerem a rejeição das suas obras.


Isso explica o sucesso do Nanowrimo, que sendo ainda um evento literário ou paraliterário, acaba por ter mais afinidades com os valores da auto-ajuda, de realização pessoal e aceitação social, permitindo aos seus participantes fazer algo que melhora a sua auto-estima, ter uma sensação de produtividade e reconhecimento e dá uma sensação de pertença a um grupo, que é cada vez mais importante na crescente solidão dos nossos dias.

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