Uma coisa chamada felicidade

Correr atrás de felicidade não é crime, acreditar nela é um risco, mas sem arriscar tudo não passa de vazio incómodo. Vamos ou não vamos?

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Stefan Wermuth/Reuters

Não existe bem que nunca chegue, nem mal que dure para sempre. Na verdade, tudo na vida funciona de forma equilibrada, dado com uma mão, tirado com a outra. Como se tratasse de uma montanha russa, ora no topo, bem lá em cima com a adrenalina no limite, ora numa descida brusca às profundezas dos piores pesadelos. Aos momentos bons seguem-se os maus e assim sucessivamente. Podendo os bons e os maus prolongarem-se de forma desigual. É preciso contar com ambos.


Nos desequilíbrios conhece-se uma coisa chamada felicidade. Composta por momentos que perduram na memória e marcados de alguma forma no corpo. Não necessariamente reconhecidos como tal, muitas vezes amadurecidos pelos anos, construindo fortalezas de saudade a morrer na praia. Numa visão de que ser-se feliz não implica fama ou fortuna, apenas a espontaneidade dos gestos. A pequenez do trivial.


A felicidade faz-se só, acompanhada, solta, sem amarras, aprisionada. Não existe o manual da felicidade, muito menos a fórmula secreta para a encontrar na plenitude. Cada um tem a sua, relativa, sem mais nem menos. Nunca se é totalmente feliz, nessa constante insatisfação e ânsia de querer sempre mais. Correr atrás de felicidade não é crime, acreditar nela é um risco, mas sem arriscar tudo não passa de vazio incómodo. Vamos ou não vamos?


É preciso reconhecê-la quando passa bem diante dos nossos olhos. Sentindo-lhe o cheiro, pousando-lhe a mão e sem rodeios perceber o quão palpável e real ela é. Mesmo que chegue sem um aviso, um planeamento prévio, uma espera com data e hora marcadas. Felicidade não tem tempo certo para chegar. Não tem um rosto identificado, uma voz, as palavras que estamos à espera. Recomenda-se respeito sempre que o destino a deposita nas nossas mãos.


Os caminhos apresentados, por vezes sinuosos, difíceis, fazem crer que não é possível. Não valem o esforço de comprar uma guerra, de ousar dar luta nas pequenas batalhas. Certo que o bichinho corrói por dentro, cheio de “e porque não?”, “e se é desta?”, “vou perder ou ganhar?”. Desistir é morrer por dentro. É deixar que cada pedaço do castelo de areia se deixe invadir pela onda do mar e se desmorone aos poucos. Na verdade, recusamo-nos a deixar o sonho permanecer nos olhos fechados do imaginário. E por isso todos procuramos ao virar da esquina, em qualquer lugar. Essa coisa. Chamada felicidade.

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