Arquitectos propõem segunda vida para a Companhia Aurifícia do Porto

Se a ideia for colocada em prática, o quarteirão ganha um hotel, uma residência para artistas e uma galeria de arte, no perímetro interior, que seria transformado num parque público

Foto
DR

Humberto Silva e Humberto Fonseca, arquitectos do gabinete Infantaria, venceram o concurso de ideias para a regeneração urbana do quarteirão da Companhia Aurifícia, no centro do Porto, uma área classificada como de interesse público entre as Ruas de Cedofeita, Álvares Cabral, dos Bragas e a Praça da República. O júri da iniciativa organizada pela Ordem dos arquitectos - Secção regional do Norte (OASRN) premiou uma proposta que usa a fábrica como espaço de ligação entre ruas e de instalação de novas empresas e serviços e que cria uma cintura permeável de construções baixas, a toda a volta do interior do quarteirão.

O coordenador do projecto vencedor – que levará oito mil euros para casa – explicou ao PÚBLICO que, para além da reabilitação do espaço da fábrica, um belíssimo imóvel do século XIX que este ano foi colocado à venda pelos proprietários e cujas instalações vão da Rua dos Bragas à Álvares Cabral – o seu grande desafio foi resolver a questão dos limites dos terrenos devolutos do interior do quarteirão. Estes confinam com os muros e construções dos logradouros das casas das ruas em volta e Humberto Silva apostou em rematar esses limites com um anel de casas/pátios, de cércea baixa, propondo uma área total de construção inferior ao máximo previsto no concurso.

Se esta ideia fosse colocada em prática, o quarteirão ganharia um hotel, onde hoje está um terreno usado como estacionamento, na rua de Cedofeita, uma residência para artistas em Álvares Cabral e uma galeria de arte, no perímetro interior, que seria transformado num parque público, acessível por passagens ao nível do rés-do-chão dos vários equipamentos a construir. A grande entrada neste novo espaço verde do Porto seria, contudo, aquela que é definida pelo corredor da fábrica desactivada, que seria transformada numa espécie de rua, protegida pelas coberturas ainda existentes, e em cujas naves poderiam ser instalados novos serviços.

Foto
Novas construções propostas Infografia Público

O presidente do júri e líder da secção regional do Norte da Ordem dos arquitectos, José Fernando Gonçalves, assinalou que o concurso foi lançado após vários debates sobre regeneração urbana e discussões com morasores e proprietários – a Companhia Aurifícia e a Companhia Santa Teresa de Jesus são parceiros da iniciativa — do quarteirão. Várias preocupações destes foram incluídas no programa e é em resposta a estas questões que Humberto Silva propõe, por exemplo, que alguns espaços da antiga fábrica sejam utilizados para serviços básicos tradicionais, como oficinas de sapateiro ou de costura, por exemplo. Outros espaços ficariam reservados para negócios mais ligados à criatividade.

Foto

A OASRN, recebeu 34 propostas para este concurso oriundas de Portugal, Itália, Holanda, França, Lituânia, Brasil, Paquistão, Suíça e Egipto. O jurí escolheu como segundo e terceiro classificados (com prémios de cinco mil e de três mil euros) o trabalho da [i]da arquitectos – Ivan de Sousa e Inês Antunes, coordenado por Ivan de Sousa, e o Atelier Lupini Machado, com um projecto coordenado pelo arquitecto João Filipe Baptista Machado. Há ainda três menções honrosas.

Foto

José Fernando Gonçalves mostrou-se satisfeito com a adesão ao concurso, que vê como uma forma diferente de fazer o debate sobre reabilitação urbana no Porto. E espera que a autarquia possa aplicar esta metodologia na discussão sobre o futuro de várias outras zonas da cidade. Sobre o facto de esta iniciativa, lançada em Junho, ter acontecido poucos meses depois de se saber que a fábrica tinha sido colocada à venda assinala que “foi uma feliz coincidência”, admitindo que os trabalhos ficam como proposta para os novos proprietários do imóvel.

Foto

Para além do presidente das OASRN, o júri integrava outros arquitectos representando alguns dos muitos parceiros desta iniciativa, como a Câmara do Porto, a Direcção Regional de Cultura, a Universidade do Porto. Os prémios são entregues na quinta-feira (dia 24), na Casa das Artes, às 18h45, no encerramento do Seminário Internacional “A Cidade Resgatada, Reabilitar a cidade (re)desenhando-a”, que acontece neste edifício desenhado por Eduardo Souto de Moura que reabriu recentemente.

Após a cerimónia oficial, a OASRN inaugura uma exposição dos trabalhos que estará patente até 7 de Novembro.

Sugerir correcção
Comentar