O Mascarilha

Em má hora decidiram o realizador Gore Verbinski, o produtor Jerry Bruckheimer e a Disney erguer o velho herói de westerns dos anos 1930, o valoroso Mascarilha, a digno sucessor dofranchise dos Piratas das Caraíbas. Em má hora, porque a combinação de afecto pelas aventuras do cinema clássico e de subversão pós-moderna, que resultara no primeiro filme dos Piratas (A Maldição da Pérola Negra, 2003) mas se foi perdendo pelos restantes, demonstra aqui ser um erro de cálculo de todo o tamanho.

O Mascarilha nunca decide se quer ser um western sério ou uma comédia meta-referencial e anacrónica, uma aventura nos moldes clássicos ou um veículo para a mais recente criação excêntrica de Johnny Depp, cujo Tonto é quase erguido a personagem principal. Incapaz de decidir, Verbinski resolve atirar tudo para o caldeirão e o resultado é indigesto: um filme singularmente desengraçado que nunca encontra um tom, soa constantemente a falso e consegue até desperdiçar a única boa ideia que tem, que é fazer da “história de origem” do Mascarilha uma lenda passada por um Tonto envelhecido a um miúdo que questiona constantemente a veracidade do que lhe é contado.

Quase desesperado no modo como procura encontrar um centro enquanto dispara em todas as direcções, este Mascarilha é uma oportunidade deitada à rua que sugere que Verbinski pode ter tentado fazer em imagem real o que quis fazer em animação com Rango (2011) sem perceber que o que resulta desenhado não resulta forçosamente ao vivo.

Sugerir correcção
Comentar