Tempo 2013, 171-264: Conselhos para o Verão

Verão. Dos atravessados dias de inverno e primavera (171) deste 2013 vamos, ambientalmente falando, gozar do apetecível e reconfortante sol de alongada luz que, já decrescendo, nos vai preparando o início outonal (264). É oportunidade para refrescarmos a necessária energia que, dia a dia, se nos faz vida.

Proponho refletirmos em cinco tempos:

1. Aproveitemos: consumamos sol; e, para a próxima vez, 2. Desfrutemos: apetece-me comer (comer bem sem esquecer a “pura água”) 3. Convivamos: fraternos e amigos (a dimensão relacional/afetiva na necessidade do suporte interpessoal para nos identificarmos e crescermos fazendo crescer) 4. Pacifiquemo-nos: tranquilidade na calma do espírito (quem não sabe aquilo de que precisa nem para onde vai, nunca tem nem chega onde quer: está sempre em lado nenhum) e 5. Reencontremo-nos: na emergência do espiritual (seres em materialidade, no tempo. Tempo sem momento pois que este se esvai no mesmo preciso momento em que nós dele nos apossamos. Sem retorno para o momento sem tempo).

1. Aproveitemos: consumamos sol. Procuremos fazê-lo bem. Os hábitos hodiernos, se descurados, empurram-nos para alterações do biorritmo circadiano. Quantas vezes andamos em contraponto tentando, com o descontrolo, ajustar o desajuste. E fazemos da nossa exposição solar uma exposição de risco: porque prolongamos o já tardio jantar; porque até vamos à discoteca; porque a noite inspira o bate-papo com os amigos e nos deitamos já de madrugada adentro. Levantamo-nos depois das 10h00 e lá vamos até à praia exatamente quando de lá deveríamos sair pelas 17h00 altura de em qualquer esplanada fazemos da merenda almoço. Jantamos pelas 23h00 e o ciclo repete-se.

Andamos em contratempo. E por que razão não nos despertamos para esse risco? Certamente porque a nossa capacidade de adaptação é boa e, também, porque no seu paciente tempo de emergência, as doenças como o cancro da pele –entre nós sempre em crescendo desde há anos – se nos vão escondendo no imediato, espreitando uma oportunidade para os anos mais ou menos próximos. Às vezes de emboscada fatal.

Mas aproveitemos e consumamos o sol digerindo-o bem para a nossa saúde mental (afugenta a depressão), para o nosso empoderamento ósseo (reforça a nossa massa trabecular, protege a mobilidade…), para o nosso bemestar e melhoria de doenças cutâneas (quanto bem para a psoríase, seborreia…). E não é só na praia que o sol se nos disponibiliza. Façamos uso do protetor solar (fator 20-30), nas áreas expostas da face sobretudo; se de início, esporadicamente ou por muito tempo, repetindo a aplicação com o intervalo de duas a três horas. Atenção especial às crianças (não esqueçamos que a dose solar é cumulativa ao longo dos anos) e se junto à água (como na neve pela refração emitida) ou dela saímos. E, atentos ao índice de ultravioletas, ao bom horário (de até às 11h00 e depois das 17h00), à proteção de chapéu e vestuário de malha espessa, mais importante do que a sua cor.

E que nos douremos sem nos queimarmos.

2. Desfrutemos: “apetece-me comer”. Neste tempo, melhor o diríamos: que bem me sabe beber! Não fôssemos 70% líquido. Sim: bebamos muito, de preferência água (ela aparece-nos na nossa roda de alimentos para disso nos recordar!); e prefiramos sumos em vez de néctares, bebidas neutras (não estimulantes) ou calmantes à noite. O nosso organismo precisa de apropriados (salutares) nutrientes: o verão pode proporcionar-nos o que no resto do ano tantas vezes descuramos: uma alimentação variada, equilibrada, mais e melhor controlada em termos de calorias e de sobrecarga proteica, rica em fibras agarrando a oportunidade de consumir a deliciosa fruta com que este nosso clima nos presenteia nesta época do ano. Se possível, degustemos mesmo aquela que diretamente nos chega do pomar: atempadamente amadurecida, de pronto consumida. Que paladar! Com ele fiquemos e com o benefício que acarreta.

3. Convivamos: fraternos e amigos a caminho. Somos seres de relação. Cria-nos e explica-nos o encontro de e com o(s) outro(s). A dimensão relacional/afetiva emerge na absoluta necessidade do suporte interpessoal (bidirecional), condicionante básica, pois, para nos identificarmos e para crescermos fazendo crescer. Que bom podermo-lo fazer a passear, a caminho do gozo de um programado ou não destino, deixando para outros “tempos” o tempo do sofá, do computador/net ou “daquele” programa televisivo. Reforcemos o presencial afeto do ver, do sentir, do ouvir, do tocar na corporeidade que nos constitui viventes aqui. E neste passo a passo estamos – dois em um – a reforçar o nossoinevitável envelhecer que queremos de qualidade no estímulo da atividade física e afetivo-mental.

4. Pacifiquemo-nos: Construirmo-nos exige-nos encontrarmo-nos. Na tranquilidade, na calma do espírito. Saber-se o que se é. Procurar-se construindo o que se deseja ser. Quem não sabe aquilo de que precisa nem para onde vai nunca tem nem chega onde quer: está sempre em lado nenhum. Tantas vezes vindo de onde não se escolheu, caminhando sem destino de partida nem ponto de encontro. Pois que é disso que se trata: encontrarmo-nos connosco próprios. Dar por nós em nós mesmos. Vendo-nos em acertos e desacertos.

5. Reencontremo-nos: na emergência do espiritual. Do tempo sem momento(s) ao momento sem tempo(s). Vivemos ainda (e bem!) num corpo. Seres em materialidade, no tempo, em relação. Tempo sem momento pois que este se esvai no mesmo preciso momento em que nós dele nos apossamos. Sem retorno. A caminho (queiramos ou não, acreditemos ou nos resignemos a ignorar) de um limite do momento sem tempo. No concurso da oportunidade de sermos o que formos sendo sem modelagens nem posses. Peneirando-nos para a “pureza” do ser construído.

Professor do Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Católica Portuguesa, no Porto. O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico.

Sugerir correcção
Comentar