Ministro do Interior italiano sobrevive a voto de desconfiança

Primeiro-ministro defendeu o seu vice de direita. A queda de Angelino Alfano significaria a queda do próprio Governo.

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Alfano é secretário-geral do Povo da Liberdade, de Berlusconi Alberto Pizzoli/AFP

O ministro do Interior italiano sobreviveu esta sexta-feira a um voto de desconfiança proposto pela oposição no Senado por causa da deportação irregular da família de um dissidente cazaque. A permanência de Angelino Alfano estava ligada à sobrevivência do próprio Governo de coligação – se fosse obrigado a demitir-se, o seu Povo da Liberdade (PdL) avisara que deixaria cair o Executivo liderado por Enrico Letta.

Antes da votação, o primeiro-ministro discursou na câmara para defender Alfano, o principal representante da direita de Silvio Berlusconi na coligação. Os senadores do PdL aplaudiram de pé a intervenção de Letta. “O que vos estou a pedir é um voto de confiança no Governo que tenho a honra de liderar”, afirmou.

A polémica abriu uma crise no Governo e dentro do Partido Democrático (PD), de Letta, com alguns senadores a exigirem a demissão de Alfano. Matteo Renzi, o presidente da câmara de Florença que o ano passado foi derrotado nas primárias para a liderança do PD, exige a demissão de Alfano, que é também vice-primeiro-ministro.

A moção de desconfiança foi apresentada pelo Movimento 5 Estrelas e pela bancada do SEL (Esquerda, Ecologia e Liberdade), o grupo de esquerda de Nichi Vendola que se apresentou às legislativas em coligação com o PD. Contra o texto votaram 226 senadores, 55 votaram a favor e 13 abstiveram-se.

Segundo as descrições de vários responsáveis da polícia ouvidos no Parlamento, a operação que levou à detenção da mulher e da filha de Mukhtar Abliazov foi dirigida pelo embaixador do Cazaquistão em Roma a partir do escritório de Giovanni Procaccini, que era até terça-feira chefe de gabinete de Alfano. Mas todos coincidem em afirmar que o ministro nada sabia.

Sem encontrarem Mukhtar na casa, os agentes levaram a sua mulher, Alma Shalabaieva, e a filha, Alua, de seis anos, que dois dias depois eram postas num avião privado e enviadas para o Cazaquistão. A deportação foi justificada com o alegado passaporte falso com que Alma teria entrado em Itália — entretanto, as autoridades italianas reconheceram que Alma e a filha tinham documentos válidos e a ordem de expulsão foi revogada, a 12 de Junho. Então, Alma já estava em prisão domiciliária no seu país.

“A expulsão da mulher de Abliazov e da filha de ambos é para nós motivo de embaraço e de descrédito”, admitiu Letta no Senado. O primeiro-ministro descreveu um “comportamento inaudito” do embaixador cazaque, insistindo no “desconhecimento de Alfano”.

“A partir deste momento, o Governo Letta vive com uma sombra moral”, defendeu Vendola, líder do SEL. “Estão prisioneiros políticos de Silvio Berlusconi”.

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