“Princesa Guerreira”: o militar americano que se tornou mulher

Durante mais de 20 anos, Chris Beck serviu os EUA enquanto membro dos Navy SEALs. Esperou para se aposentar para se assumir como Kristin Beck e contar tudo num livro

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Nas fotografias em cenário de guerra, a barba é farta, os bíceps robustos, a postura viril. Hoje, o cabelo cresceu, a face está maquilhada, o peito ganhou volume. É a terceira vida de Kristin Beck, antes Chris, que agora se assume como sempre se sentiu. É a sua “terceira oportunidade”, como conta em “Princesa Guerreira” (“Warrior Princess”), livro à venda na Amazon desde sábado, que narra como o ex-militar, medalhado membro da força especial da marinha norte-americana Navy SEALs, se transformou numa mulher.

Kristin está agora a fazer terapia hormonal e planeia ser submetida em breve à cirurgia de mudança de sexo. Filho de pais conservadores, diz que sempre se sentiu mulher. Enquanto Chris, foi casado duas vezes e é pai de dois rapazes. “Warrior Princess: A U.S. Navy SEALs Journey to Coming Out Transgender” é o seu livro de memórias, em que capítulos sobre talibãs e guerra cruzam-se com outros sobre saltos altos ou divisão de género —Chris esteve no Iraque e Afeganistão, integrando a mesma unidade que, meses depois da sua saída, avançou para o ataque que matou Osama Bin Laden.

O livro, escrito na terceira pessoa, é o resultado de mais de 100 horas de entrevistas feitas pela psicóloga e professora universitária Anne Speckhard, co-autora, a quem Kristin recorreu para ajudá-la a escrever a sua história. Porquê? A razão está escrita em maiúsculas logo no prefácio: “[Nos EUA] A taxa de suicídio entre transgéneros é quase de 50% quando a média da sociedade em geral situa-se nos 2%.” É um apelo da própria Kristin: “Vivam e sejam felizes.”

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Chris no Afeganistão DR

Durante mais de 20 anos, Kristin serviu o país como o militar Chris. Os ossos partidos e o stress pós-traumático são testemunhas. Esperou por se aposentar para assumir a sua verdadeira identidade sexual. De acordo com o Linkedin, onde aliás fez o seu primeiro “coming out” público ao mudar a foto e o nome, Kristin trabalha hoje no Departamento da Defesa dos EUA. Os antigos colegas ficaram surpreendidos, mas não deixaram de mostrar o seu apoio. Muitos esperam, assim, que a sua atitude influencie a legislação. Dois anos depois do fim da política de “Don’t Ask Don’t Tell”, os transgéneros ainda não se podem alistar. No entanto, pequenos avanços têm sido feitos. Em Maio, o Pentágono reconheceu, pela primeira vez, a mudança de nome, logo de género, nos documentos militares de Autumn Sandeen.

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