Um passo maior que as pernas

A sociedade portuguesa não está pronta para a co-adopção por casais homossexuais, nem tampouco para o passo seguinte, e provavelmente nem na próxima década estará

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Reuters

Discutiu-se recentemente, e aprovou-se em Assembleia da República, a co-adopção de crianças por casais homossexuais, algo que me surpreende, pela negativa, já que demonstra uma total insensibilidade social e desconhecimento da realidade por parte dos nossos deputados, e que nos deve deixar a todos, preocupados.

Mas não, inicialmente, nem sequer vou usar os habituais e ignorantes argumentos, que se espalham nas redes sociais, questionando a qualidade para educarem as crianças, pois é de tal forma subjectivo que não merece mais comentários, ou outros ignóbeis argumentos sobre a futura opção sexual das crianças criadas por casais homossexuais.

Vou, assim, pelo argumento mais lógico, básico e realista, mas de que muita gente se tem esquecido no debate: o nosso país ainda não tem a suficiente evolução social para aceitar o que se aprovou. A sociedade portuguesa, caracterizem-na como entenderem, não está pronta para este passo, nem tampouco para o seguinte, e provavelmente nem na próxima década estará.

As pessoas claramente não conhecem a crueldade de uma sociedade impreparada para reformas deste vigor, ou a crueldade de que as próprias crianças são capazes nas escolas e da discriminação que sofrerão por grande parte da população. Estaremos assim tão sedentos de egoísmo ao ponto de arriscar gerações inteiras de futuros jovens? Parece-me óbvio, que não se está a pensar no superior interesse da criança.

Mais do que isso, a história dá razão a quem pensa desta forma, quantas décadas, ou séculos, se levou a aceitar o divórcio, se levou a deixar de “olhar de lado” filhos de pais divorciados, órfãos e afins? Se a própria sociedade ainda discrimina os homossexuais, não estaremos nós a transferir essa discriminação para outros, inocentes?

A mentalidade não se altera por decreto, a sociedade não muda automaticamente a partir do parlamento.

Crónica corrigida às 17h30 Foi corrigida a grafia da palavra "tampouco".

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