Optimus Primavera Sound: os 5 concertos mais marcantes

Em todos os festivais existem confirmações, surpresas e desilusões. Para nós, estes foram os 5 concertos mais marcantes.

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Paulo Pimenta

É praticamente unânime que o conceito, o espaço, a concepção do recinto, o ambiente e a organização do Optimus Primavera Sound, que se realizou de quinta a sábado no Porto, se consolidou definitivamente na 2ª edição do evento. Onde o consenso é mais difícil é na avaliação de quais foram os melhores concertos. Ou mesmo os mais relevantes.

O que é perfeitamente natural. Cada um terá a sua própria narrativa dos acontecimentos, principalmente num evento com as características do Primavera onde ninguém é capaz de experimentar a totalidade dos espectáculos. Todos os festivais são compostos de confirmações, surpresas e desilusões. Para nós, estes foram os 5 concertos mais marcantes dos mais de 50 que se realizaram.

Nick Cave & The Bad Seeds

Muito se falou de tempo ou nostalgia, ao longo do festival. É um tema recorrente na cultura rock dos últimos dez anos. É natural. Há muito que escrevemos que existe uma decomposição entre as narrativas do rock (a ideia de que o rock é feito por jovens, para jovens e é sobre o que é ser jovem) e a realidade. Isto é, o tempo já não é linear. Passado, presente e futuro confundem-se. Como no jazz, ou na clássica, dos quais o rock se aproxima, em termos de percepção da memória. Ao longo dos anos Nick Cave já foi quase tudo: de cantor rock extrovertido a poeta introvertido. Por isso, hoje, permite-se ser o que lhe apetece. Ao vê-lo em palco, qual furacão, muitos disseram que parecia rejuvenescido. Mentira. Amadureceu. E por isso, aos 55 anos, é mais focado. O seu concerto foi isso: uma lição de palco de alguém que já viveu muito, que condensa cada emoção e gesto preciso, na direcção da multidão, fazendo-o como se estivesse a comunicá-lo, olhos nos olhos, a cada um de nós.


James Blake

Num festival, onde as solicitações e estímulos são constantes, não é fácil a alguém que esculpe o silêncio, congregar a atenção de uma multidão. E o inglês James Blake conseguiu-o. A sua música é feita de pausas, encadeamentos lentos, momentos de respiração e, como se não bastasse, apresenta-se com uma formação invulgar: sentado, nos teclados, ao lado de baterista e guitarrista, também eles sentados. Há uns anos, no contexto de um evento para milhares, dificilmente se veria alguém assim. Ainda por cima, James Blake, fá-lo com canções, e momentos de abstracção instrumental, que não respeitam a estrutura clássica da canção. Não é para todos.


Blur

Foi o momento mais celebrativo, como se esperava. De um concerto dos Blur, na actualidade, espera-se exactamente aquilo. Que sejam carismáticos – e Damon Albarn é-o quanto baste. Que sejam bons executantes – e lá está Graham Coxon a mostrar que é um excelente guitarrista. Que se empenhem a sério, como aconteceu sem dúvida. E que devolvam as canções que toda a gente quer ouvir e que acompanharam a adolescência de muitos. O resto acontece nesse tráfego afectivo que se estabelece entre palco e plateia. O espectáculo dos Blur foi isso, extravasou em muito o palco, alojando-se nos milhares de vozes que sabiam quase todas as canções de cor.


Savages


Quase todos os festivais desejam ter um momento assim: proporcionar o concerto de um grupo exactamente no momento em que se percebe que ele se prepara para levantar voo. Foi exactamente isso que aconteceu com as britânicas Savages. Os mais atentos já tinham dados por elas, até porque o seu álbum de estreia foi lançado há poucas semanas. Mas poucos as teriam visto ao vivo. Em palco são o tipo de banda que se transcende. Têm tudo: uma cantora carismática, com voz, atitude e androginia. E uma sonoridade que é capaz de resgatar memórias de décadas passadas – principalmente do pós-punk e das movimentações mais intransigentes do rock – sem ficar presa delas, num misto de espontaneidade e de sentido estético muito preciso.


My Bloody Valentine

Não se deixaram fotografar. E não nos parece que seja por pudor do seu aspecto veterano. Simplesmente estão-se nas tintas para jogar ao jogo das personalidades do rock. Sempre foi assim, principalmente para Kevin Shields, um tipo com tanto de talentoso como de inflexível com os seus princípios. E tem direito a tê-los, principalmente agora que regressa sem nada a perder. Acabaram por dar o concerto mais polémico do festival e o que criou mais divisões. Um concerto deles nunca poderia ser uma celebração – não têm as canções, nem a atitude. É uma experiência. Existiu quem se queixasse do som – não se ouviam as vozes, nem as harmonias por entre o ruído. Ora precisamente, os MBV são um ensaio com (e do) som. Quem vai à espera de reprodução dos temas sairá inevitavelmente insatisfeito. Quem vai à procura do pormenor, nunca conseguirá entrar no avassalador design sonoro final. Quem vai à espera de fotografá-los, captará uma neblina onde mal se distinguem os vultos. Para uns sublimes, para outros desilusão. Estamos com os primeiros.




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