Violência religiosa volta a agitar Birmânia

Dia estava a ser calmo mas ira de budistas contra muçulmanos regressou, esta terça-feira, a Lashio.

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Efeitos da violência de Março em Meiktila Soe Than Win/AFP

Pelo segundo dia consecutivo, apesar da presença do Exército e dos apelos do Governo à calma, Lashio, cidade do Norte da Birmânia, está, nesta terça-feira, a ser palco de actos de violência contra muçulmanos. incendiados uma mesquita, um orfanato islâmico e lojas, em mais um episódio da violência religiosa que tem agitado o país.

Pelo menos quatro pessoas foram feridas, segundo fonte hospital citada pela AFP. Não foi explicada a natureza nem a gravidade dos ferimentos. Uma equipa de reportagem da agência  viu duas casas serem incendiadas nos arredores da capital do Estado Shan, perto da fronteira com a China.

"Os meus amigos estão escondidos em lugar seguro. A nossa vida está em jogo", disse um muçulmano, sob anonimato. "Precisamos de mais militares para controlar a situação [...] Não nos atrevemos a sair, fechamo-nos em casa."

Horas antes, a situação parecia controlada. “A situação em Lashio esta manhã está calma”, disse Ye Htut Thein Sein, porta-voz do Presidente, Thein Sein, citado pela Reuters. Os militares e a polícia adoptaram medidas de segurança e “as organizações religiosas e sociais estão a cooperar com as instituições administrativas para prevenir eventual violência”, acrescentou

Na terça-feira, o Exército foi chamado a intervir, ao lado da polícia, para controlar o mais recente episódio da tensão religiosa que também fragiliza o Governo reformador nomeado em 2011. A televisão estatal MRTV confirmou a destruição de várias lojas, da mesquita e do orfanato – referido noutras notícias como escola religiosa. Um muçulmano disse que o edifício foi evacuado pouco antes de ser destruído pelas chamas.

A onda de violência só foi controlada ao fim do dia. “Nem queremos imaginar o que teria acontecido sem o recolher obrigatório”, disse, sob anonimato, um responsável local citado pela AFP.

Testemunhos citados pela agência indicam que os actos de destruição na cidade começaram depois de a polícia ter recusado entregar a monges e habitantes locais um muçulmano de 48 anos detido por ter queimado, em circunstâncias mal esclarecidas, uma budista de 24. A mulher foi hospitalizada mas não corre perigo de vida.

Acontecimentos como os de terça-feira “não deveriam ocorrer numa sociedade democrática como a que temos tentado construir”, escreveu Ye Htut Thein Sein na sua página no Facebook.

As manifestações de hostilidade contra muçulmanos têm-se multiplicado na Birmânia desde que começou a liberalização política, após meio século de ditadura militar. Em 2012, no Ocidente do país, confrontos entre budistas de etnia rakhine e muçulmanos da minoria apátriada rohingya fizeram cerca de 200 mortos e obrigaram à fuga de cerca de 140 mil pessoas.

Em Março passado, em Meiktila, no centro, uma discussão banal entre um casal de clientes budistas e um comerciante muçulmano degenerou em confrontos que mataram pelo menos 44 pessoas, maioritariamente muçulmanas, e provocaram a destruição pelo fogo de bairros inteiros. Mesquitas de diversas cidades a Norte de Rangum foram depois destruídas. Os discursos nacionalistas de monges budistas extremistas têm-se multiplicado.

A Birmânia é um país maioritariamente budista. Os muçulmanos representam oficialmente 4% a 5% da população. Na semana passada, durante uma visita a Washington, nos Estados Unidos, o Presidente Thein Sein prometeu tudo fazer para garantir a segurança dos muçulmanos.

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