Transe

Podia ser o Inception da hipnose: o cúmplice de um assalto a uma leiloeira fez um traumatismo craniano, ficou amnésico, esqueceu onde escondeu o quadro (valiosíssimo) que ajudou a roubar, e o gangster que montou o golpe recorre a uma terapeuta especializada em hipnose para “desbloquear” a memória do rapaz. Danny Boyle (sim, o mesmo de Trainspotting e Quem Quer Ser Bilionário?) regressa com Transe ao território do noir de trazer por casa britânico que o revelou (com Pequenos Crimes entre Amigos) e aproveita para aplicar toda a parafernália de truques mais ou menos estilosos que foi aperfeiçoando ao longo dos anos. Mas faz todo o sentido que assim seja num heist movie feito de voltas e fintas, fachadas que se vão desarmando sucessivamente; é um género baseado numa superfície em constante movimento e se há coisa que Boyle sabe fazer é encher o olho, pelo que o jogo de espelhos de Transe, onde nunca nada é o que parece, está feito à medida do cineasta britânico. É um objecto puramente cinético, funcional, veloz, com uma primeira meia-hora verdadeiramente notável, que os actores habitam com raça (sobretudo Rosario Dawson, a mostrar a Halle Berry como é que se faz) e Boyle encena com gosto; é uma pura máquina de entretenimento, sem outro tipo de ambições, que cumpre o caderno de encargos com garra e sem engonhar - e, sobretudo, sem pingo da sisudez que chamar-lhe o Inception da hipnose pode sugerir.

Sugerir correcção
Comentar