Morreu o escritor e economista espanhol José Luis Sampedro

José Luis Sampedro foi um crítico acérrimo daquilo que considerava ser a decadência moral e social do Ocidente.

A notícia veio tarde para se cumprir o último desejo de José Luis Sampedro, que morreu em sua casa em Madrid. É que escritor tinha dito à sua família que queria “ir” de forma “simples e sem publicidade”, contou à rádio espanhola Cadena Ser Olga Lucas, com quem Sampedro se casou em 2003. Ao lado de Olga Lucas, o espanhol dizia que encarava a morte com toda a serenidade. “Ela faz com que a minha moribundez seja muito satisfatória”, explicava o escritor, como lembra agora o El País.

Defensor de uma economia “mais humana, mais solidária, capaz de ajudar a desenvolver a dignidade dos povos”, José Luis Sampedro foi um crítico acérrimo daquilo que considerava ser a decadência moral e social do Ocidente, do neoliberalismo e dos excessos do capitalismo.

“Há dois tipos de economistas: os que trabalham para enriquecer os mais ricos e os que trabalham para empobrecer os pobres”, dizia José Luis Sampedro, que teve como alunos na universidade nomes que se destacariam depois na política, com a pasta da Economia, como Miguel Boyer, Carlos Solchaga, Pedro Solbes e Elena Salgado.

Na defesa por uma sociedade mais justa, uma das últimas acções de José Luis Sampedro foi assinar o prefácio da edição espanhola de Indignai-vos!, de Stéphane Hessel, que morreu em Fevereiro. A obra, lançada em 2010 e editada em Portugal em 2011 pela Objectiva, foi adoptada pelo movimento dos Indignados, que se fez ouvir em muitas ruas do mundo, sobretudo em países do Ocidente, onde o capitalismo financeiro entrou em crise.

Não é por isso de estranhar que José Luis Sampedro se tenha tornado numa referência para uma geração mais jovem. “Ele podia estar certo ou errado, mas o que dizia era o que acreditava, era a sua convicção e é disso que agora ficamos mais carentes”, disse Olga Lucas, também ela escritora, destacando que foi esta autenticidade de Sampedro que o fez chegar aos jovens. “Quero que se chore o menos possível e que se continue a lutar.”

Entretanto, a morte de José Luis Sampedro tornou-se no segundo tema mundial mais citado no Twitter, e o primeiro em Espanha, escreve o ABC. São várias as mensagens de condolências que surgem na rede social, nas quais se destacam as homenagens dos movimentos ligados ao 15-M. Para o grupo Democracia Real Ya, Sampedro foi “uma grande pessoa, um grande companheiro e um grande amigo”. Num outro tweet, o grupo partilhou uma carta escrita e enviada por Sampedro a 15 Maio de 2011 para fosse lida nas Portas do Sol, ponto de encontro dos protestos, em que pedia “uma vida mais humana”.

Para o grupo Juventud Sin Futuro, José Luis Sampedrou “sempre foi jovem”. numa mensagem escrita no Twitter, o grupo faz eco das palavras de Olga Lucas e pede para que se continue a lutar.

“Devíamos indignarmo-nos mil vezes”, escreveu, por sua vez, a Plataforma de Afectados por la Hipoteca.

Condecorado com a Ordem das Artes e das Letras de Espanha, pela sua trajectória literária e pelo seu pensamento comprometido com os problemas do seu tempo, nasceu em Barcelona em 1917. Mas há muitos anos que vivia em Madrid.

À Lusa, Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago, falou de "um ser humano admirável, de uma humildade absoluta e que reclamava o direito à indignação". "Saramago e Sampedro eram literariamente dferentes, mas estavam na mesma órbita de pensamento. Eram jovens, indignados, livres e revolucionários", disse Pilar, para quem o escritor espanhol foi sempre "implacável contra o poder e contra o deserto de ideias".

Octubre, octubre (1981), La sonrisa etrusca (1985), La vieja sirena (1990), Real Sitio (1993), El amante lesbiano (2000), Escribir es vivir (2003), La senda del drago (2006), La ciencia y la vida (2008) são algumas das suas obras mais conhecidas.

Em Portugal, José Luis Sampedro tem três obras editadas na Teorema: O sorriso etrusco (1994), Monte Sinai (1999) e O Amante Lésbico (2001).

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