Num futuro mais ou menos próximo onde os robôs-ajudantes se vulgarizaram, um reformado resmungão vê-se obrigado pelo filho a aceitar ter um acompanhante robótico que lhe trate da casa e das refeições: posto desta maneira, poderia ser uma comédia familiar, simpática mas sem sinais particulares, sobre a proverbial amizade relutante entre o velhote e a máquina, ou sobre o conflito de gerações entre o velhote e os filhos. Mas este é também um filme sobre a memória e sobre o passado - Frank é o único freguês regular da livraria local, que vai ser substituída por uma “experiência interactiva”, e há algo no artesanato táctil do livro de que não se consegue separar, metáfora dos remorsos a que a sua vida de ladrão na prisão o levou e que a progressão narrativa vai trabalhar de modo engenhoso. Robô & Frank, então, torna-se numa conjugação improvável mas maioritariamente conseguida de heist movie de trazer por casa e melodrama digno da velhice relutante, com duas excelentes ideias devidamente trabalhadas pelo argumento e uma sobriedade e boa-disposição geral que compensam o evidente baixo orçamento desta pequena produção independente e as falhas de estreante que Jake Schreier revela a espaços. Acima de tudo, há um Frank Langella imperial e impecável, que aguenta o filme quase sem esforço, bem apoiado por um excelente elenco secundário (com destaque para uma radiosa Susan Sarandon e para a justeza de Peter Sarsgaard a dar voz ao robô). Resulta um daqueles filmes que, na sua modéstia desempoeirada, acabam por nos dizer mais do que muitos filmes de tese sobre assuntos sérios.
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