Mo Yan dá primeira grande entrevista depois de receber o Nobel

O Prémio Nobel da Literatura 2012 deu uma longa entrevista à Der Spiegel e ela está disponível, em inglês, na página online da revista alemã. O seu romance Frog foi esta semana para as livrarias alemãs.

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Mo Yan Reuters

Mo Yan, Prémio Nobel da Literatura 2012, tem evitado dar entrevistas apesar de ter participado numa conferência de imprensa quando esteve, no final do ano passado, a receber o prémio em Estocolmo. Mas esta semana foi para as livrarias alemãs Frog, livro cujos direitos estavam a ser vendidos pela Wylie Agency na última Feira do Livro de Frankfurt, e o escritor chinês, 58 anos, deu uma entrevista à revista alemã Der Spiegel .

Primeiro concordou ter uma “conversa muito curta” - o jornalista Bernhard Zand encontrou-se com ele numa casa de chá de Pequim – mas a conversa afinal durou duas horas e está disponível para ser lida na íntegra no site da revista alemã.

Durante a entrevista são abordados vários temas delicados. A propósito deste seu livro, o escritor pôde falar sobre o que pensa da política dos filhos únicos e faz até algumas confissões pessoais. Respondeu também às críticas que lhe têm sido feitas pelo artista plástico Ai Weiwei depois de lhe ter sido atribuído o Nobel.

Mo Yan perguntou ao jornalista quais eram essas críticas e quando soube que Weiwei não considera que ele possa representar a China, contrapôs: “Que intelectual pode pretender representar a China? Eu não reivindico isso para mim. Será que Ai Weiwei o pode reivindicar? Aqueles que realmente podem representar a China estão a escavar lixo ou a pavimentar estradas com as próprias mãos”.

Explica também a sua participação polémica no livro em que alguns escritores transcreveram à mão os discursos de Mao Zedong sobre arte e literatura, proferidos em 1942, onde Mao enunciava as regras que os escritores deviam seguir. Diz que era um projecto comercial, que o editor era um seu amigo e que nem sequer foi ele que escolheu o excerto do parágrafo que copiou.

E quando lhe lembram as críticas que o escritor chinês Liao Yiwu lhe fez quando o ano passado recebeu o Prémio da Paz dado pelos Livreiros Alemães, em Frankfurt, referindo-se ao facto de ele ser um “autor estatal”, acaba por dizer: “Eu sei que ele me inveja pelo Nobel da Literatura e percebo, mas as suas críticas não têm fundamento.”

A determinada altura, o jornalista alemão pergunta ao autor de Mudanças (ed. Divina Comédia) e Peito Grande, Ancas Largas (ed. Babel) porque é que apesar de ter sido forçado a interromper os estudos durante a Revolução Cultural ainda é membro do Partido Comunista Chinês. O escritor responde: “O Partido Comunista Chinês tem cerca de 80 milhões de membros, e eu sou um deles. Entrei no Partido em 1979 quando estava no exército. Percebi que a Revolução Cultural foi um erro individual, de líderes, teve mais a ver com isso do que com o Partido.”

E quando o jornalista lhe lembra que nos seus livros existem mais críticas aos dirigentes do Partido do que no seu discurso político, que é muito mais brando, Mo Yan diz que não vê contradição entre as suas opiniões políticas e quando critica os dirigentes do Partido nos seus livros: “eu detesto funcionários corruptos”.

 

 

 
 
 

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