“Bestas do Sul Selvagem” é uma mostra do poder de Wallis

Ao longo de 93 minutos, Wallis transporta-nos num carrossel de emoções que acompanham a história pouco usual de Zeitlin

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“Bestas do Sul Selvagem” é um dos nove nomeados para óscar de Melhor Filme este ano. Para além dessa nomeação, Quvenzhané Wallis, o prodígio de nove anos que protagoniza o filme, pode ganhar o óscar de Melhor Actriz.

Ao longo de 93 minutos, Wallis transporta-nos num carrossel de emoções que acompanham a história pouco usual de Zeitlin. Quem viu “O Sítio das Coisas Selvagens” pode identificar o trabalho de Mas Records com o desta pequena actriz. Ambos os filmes obrigam a representar uma série de emoções conflituosas e uma série de momentos surpreendentes à medida que o filme avança por caminhos inesperados.

A pequena Wallis (que tinha apenas cinco anos aquando das filmagens) narra grande parte do filme mas pouco fala nas cenas propriamente ditas. Ainda assim, quando o faz, é surpreendente. As suas expressões faciais e, sobretudo, os olhares simultaneamente de raiva e de amor que troca com o pai, são o ex-libris deste filme É também esta relação pai-filha que nos deixa a pensar e que dá substância a “Bestas do Sul Selvagem”. A maior parte das interacções entre os dois chega a ser arrepiante e um pouco assustadora pelo que, quando ele começa a falar da sua concepção, o receio dos espectadores é inevitável. E, então, Dwight Henry e Quvenzhané Wallis fazem a sua magia e transformam aquele num dos momentos mais memoráveis do filme. Um momento mágico, trágico, sádico exactamente como, de acordo com os Expensive Soul, o amor.

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Leonor Capela, finalista do curso de Ciências da Comunicação, Universidade do Porto

Este é o primeiro filme de Dwight Henry que foi descoberto na padaria onde a equipa de filmagens costumava ir. Interpretando o pai doente de Hushpuppy, Henry tem a difícil tarefa de representar uma forma de amor muito atípica e agressiva. A dificuldade era, acima de tudo, fazer o espectador acreditar que aquela relação era, realmente, boa para Hushpuppy e que ele a amava e queria o seu melhor. Dwight Henry está fantástico e a química entre os dois actores é palpável. Na impossível tarefa de fazer com que o espectador sinta empatia por aquele pai e aquela filha, Henry e Wallis estão no seu melhor.

Tudo o resto se passa de uma forma um pouco estranha, deixando-nos sempre na dúvida sobre o que estará realmente a acontecer naquele pequeno pedaço de terra a que eles carinhosamente chamam “Banheira”.

“Bestas do Sul Selvagem” acontece ao espectador como um sonho (ou um pesadelo): de certa forma desconexo, imprevisível, sem sentido e atabalhoado. As cenas encadeiam-se sem terem uma ligação que faça obrigatoriamente sentido e os momentos terminam e começam assim também. As personagens podem estar num sítio a fazer algo e, logo a seguir, a fazer outra coisa sem nenhuma razão nem motivo aparentes. As coisas que acontecem também parecem ser motivadas por medos ou receios ou vir de algo de que se ouviu falar uma vez e ficou no subconsciente. É o caso dos auroques que surgem na história e que são parecidos com o porco de Hushpuppy em vez de semelhantes à sua imagem histórica de bovino. A cena no bar de alterne em que Hushpuppy se encontra com a mãe também é algo desarticulada do resto do filme.

Esta desarticulação geral é uma das características mais marcantes de “Bestas do Sul Selvagem” e levanta perguntas acerca do que está por trás desta história e deste filme. Uma dessas perguntas é “quem é Behn Zeitlin?”.

Esta é a primeira longa-metragem do realizador de 29 anos que ajudou a criar uma colectiva independente de realização chamada Court 13.

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