Doutoramento retirado à ministra alemã da Educação por plágio

Annette Schavan perde grau académico por decisão da universidade de Düsseldorf, que vai investigar suspeitas levantadas por um blogger anónimo em 2012.

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Annette Schavan defendeu a sua tese em 1980

A Universidade de Düsseldorf, na Alemanha, decidiu retirar o doutoramento da actual ministra da Educação, Annette Schavan, 57 anos, depois de confirmar que as suspeitas de plágio levantadas por um blogue anónimo, em 2012, tinham razão de ser. A ministra defende a legitimidade da sua tese, defendida em 1980, e promete recorrer. Porém, o seu lugar no governo alemão da conservadora Angela Merkel (CDU) passou a estar em perigo.

É o pior desfecho possível para a titular da pasta da formação e educação na Alemanha. Segundo a descrição da edição online da revista Spiegel, pouco passava das 20h15 de terça-feira quando Bruno Bleckmann, professor de história daquela universidade, anunciou aos jornalistas e ao país a decisão: segundo o conselho científico da faculdade de Filosofia, a tese foi considerada "inválida" e o "título de doutor foi revogado".

A medida foi aprovada por 12 votos a favor, dois contra e uma abstenção. A votação foi secreta e a reunião durou cerca de seis horas, relata a mesma fonte.

No trabalho em causa, de 351 páginas, Schavan abordava a formação de carácter e de consciência. No entanto, os peritos que analisaram a tese, depois de a universidade ter decidido investigar a fundo as alegações anónimas publicadas na Internet, consideraram que a autora incluiu "contributos teóricos" na tese "de forma sistemática e deliberada" mas que "não eram da sua autoria". A conclusão é a de que há "significativas quantidades" de texto que não foram identificadas como citações nem a fonte foi identificada. Por isso, e por ser necessário "proteger a integridade do sistema de qualificações académicas", o doutoramento da ministra voi "revogado". A governante tem agora um mês para recorrer desta decisão.

Este é o segundo caso de plágio académico a afectar figuras do Governo federal de Angela Merkel. Em 2011, o então ministro da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, perdeu o doutoramento pela Universidade de Bayreuth, depois de se ter comprovado que partes da sua dissertação tinham sido copiadas. Foi o fim da carreira política deste governante, que se viu forçado a demitir-se do executivo, apesar de ser na altura um dos membros de Governo mais populares entre os eleitores.

Ironia das ironias, Schavan foi uma das personalidades que se mostraram muito críticas com o caso que envolveu Guttenberg. Graças à sua história familiar e académica, Guttenberg ficou conhecido como o "Barão do copy-paste".

Ministra diz que fica
A decisão da universidade de Düsseldorf apanhou a ministra numa deslocação oficial à África do Sul. Schavan defendeu-se sempre das suspeitas, garantindo que não tinha cometido quaisquer irregularidades.

Foi em Joanesburgo que, segundo o jornal Süddeutsche Zeitung, de Munique, a ministra reagiu ao anúncio da faculdade com a promessa de que iria recorrer, acrescentando que não tenciona abandonar o Governo. Mas o problema académico talvez seja agora a menor das preocupações de Schavan e de Merkel, ambas sob pressão política para que a ministra da educação se demita.

A acontecer, seria um golpe no planeamento eleitoral do partido de Angela Merkel, que perderia uma das suas figuras de proa, no plano nacional, a sete meses das eleições legislativas que estão marcadas para 22 de Setembro.

A secretária-geral do SPD e número dois do principal partido da oposição, Andrea Nahles, disse ao jornal Welt, de Berlim, que a governante deixou de ter credibilidade para ser ministra. E aludindo ao desfecho do caso de Guttenberg, salientou que Schavan "deve assumir as consequências". "As regras devem ser aplicadas a todos – independentemente de quem está envolvido", insistiu.

A líder parlamentar dos Verdes, alega, por seu lado, que não é sustentável manter naquela pasta uma pessoa que tenha violado normas académicas. "Suponho que a ministra não queira prolongar este caso, salvaguardar-se a si e à Ciência e demitir-se."

O único apoio político, até agora, veio do interior do próprio partido da ministra, a CDU. Ao programa matinal do segundo canal alemão, ZDF, o líder da bancada da CDU no parlamento, o Bundestag,  Michael Kretschmer, declarou nesta quarta-feira que está "firmemente convencido" de que a tese "respeita as normas que estavam em vigor há 32 anos".

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