A Primavera Árabe não resolveu o problema da liberdade de imprensa

O ano que passou foi dos mais mortíferos de sempre para os jornalistas, diz a associação Repórteres Sem Fronteiras. No ranking da liberdade de imprensa 2013, Portugal sobe cinco posições e é 28.º no mundo.

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Protesto de um jornalista sudanês, em Cartum. O Sudão é o décimo país do mundo em que a imprensa é menos livre no ranking da RSF Mohamed Nureldin/Reuters

A Primavera Árabe pode até ter derrubado regimes, mas isso não se traduziu, pelo menos para já, em melhorias na liberdade de imprensa no Médio Oriente e no Magrebe no último ano, conclui a Repórteres sem Fronteiras (RSF) no relatório anual, divulgado nesta quarta-feira.

Segundo a RSF, a liberdade de imprensa continua “deplorável” na Tunísia e no Egipto, onde os protestos levaram à queda dos regimes de Ben Ali e de Hosni Mubarak. A Tunísia subiu 30 lugares, para a posição 134 no ranking, mas ao mesmo tempo o Bahrein caiu 29, para 173.º; a Líbia subiu para 154.º, mas o Iémen desceu.

Apesar da revolução e da queda de Mubarak, também o Egipto, agora liderado pelo islamista moderado Mohamed Morsi, desceu 39 lugares no ranking da liberdade de imprensa, para 166.º. A Síria também caiu para 176.º e, ao fim de quase dois anos de violenta repressão aos protestos contra o regime de Bashar al-Assad, é o quarto país do mundo em que há menos liberdade de imprensa.

A Síria foi também o país em que mais jornalistas morreram no ano que passou, também um dos mais mortíferos de sempre no mundo: 88 jornalistas mortos, além de 47 bloggers e "cidadãos-jornalistas" abatidos.

“As transições que começaram não estão necessariamente a conduzir a mais pluralismo e a maior parte das mudanças no ranking foram descidas”, lê-se no relatório dos Repórteres sem Fronteiras, que alerta para o facto de as liberdades que se conseguiram serem “frágeis”.

Mais, sublinha a RSF: a posição ocupada pela maioria destes países “já não é atribuível a acontecimentos políticos dramáticos”, o que faz com que o ranking deste ano seja “um melhor reflexo das atitudes e das intenções” destes governos quanto à liberdade de imprensa.

Com o rótulo de países menos livres continuam a Eritreia, o Turquemenistão e a Coreia do Norte. A novidade é que este ano são precedidos pela Síria, o Irão e a China – três países que “parecem ter perdido o contacto com a realidade ao serem sugados para uma espiral de terror” – e ainda pelo Bahrein e o Vietname. Segundo o Índice da RSF, também o Uganda e a Bielorrússia se tornaram mais repressivos.

O primeiro lugar do ranking é ocupado pela Finlândia, seguida da Noruega e da Estónia; Portugal é 28.º na lista – subiu cinco lugares do relatório anterior para o de 2013. O país que registou mais melhorias foi o Malawi, que subiu 71 posições e passou a ocupar o 75.º lugar.

O país que mais posições desceu no índice da RSF foi o Mali, que em Março assistiu a um golpe de Estado e nos meses seguintes viu as regiões do Norte serem ocupadas por grupos jihadistas, que agora o Exército tenta expulsar, com o apoio francês e de uma força africana.

O Chile caiu 47 posições, para 80.º lugar, em parte por causa da actuação das forças de segurança nas manifestações de estudantes; os Estados Unidos desceram 27, para 47.º lugar, depois de várias detenções de jornalistas durante os protestos do Occupy Wall Street. Outro país que desceu muito este ano foi o Brasil, agora 99.º no ranking.

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