“Decisão de Risco” descola com a performance de Denzel Washington

As decisões de risco feitas neste filme são aquilo que nos mantém colados à cadeira, em êxtase, na eminência de chorar, rir, desesperar

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Não é segredo que os filmes têm de ter um título na língua do país em que estreiam. E em Portugal, a comparação entre o título em inglês e o título em português gera amiúde controvérsia. Temos “The Girl with the Dragon Tattoo” vs “Os Homens que Odeiam as Mulheres”, “Breakfast at Tiffany’s” vs “Bonequinha de Luxo”, “Sleepers” vs “Sentimento de Revolta” entre outros.

“Flight” foi traduzido como “Decisão de Risco” e, desta vez, foi em cheio.

As decisões de risco feitas neste filme são aquilo que nos mantém colados à cadeira, em êxtase, na eminência de chorar, rir, desesperar. São as decisões do piloto Whitaker no curso da sua história mas, também, decisões de realização, de banda sonora, de representação.

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Leonor Capela, finalista do curso de Ciências da Comunicação, Universidade do Porto

“Decisão de Risco” funciona em ciclo. Um ciclo que se fecha sobre si próprio em vários momentos, todos eles com o intuito do espectador ficar cada vez mais envolvido e ansioso com o desenrolar da história. Este formato cíclico, em termos de “story-telling” tem de vir devidamente acompanhado pela realização e Zemeckis está à altura do desafio. Os planos de Denzel Washington a sair do quarto, fardado ou a cheirar droga, são o exemplo mais óbvio deste ciclo. Mas os momentos em que o ciclo atinge o seu auge são aqueles que fazem o filme merecer o seu título português: os momentos de decisão de risco.

A banda sonora completamente composta por músicas “típicas” americanas/inglesas (e por típicas refiro-me a Joe Cocker, Rolling Stones, etc.) também ajuda a rematar os ciclos mas, finalmente, são os actores que o tornam irresistível.

Denzel Washington está brilhante na sua interpretação do piloto intrépido e alcoólico que impede um avião de se despenhar desastrosamente. O filme desenrola-se apresentando sempre de mãos dadas estas duas tensões: a queda do avião e o alcoolismo de Whitaker com o tremendo cuidado de colocar o espectador numa dura posição de escolhas morais. O que é certo e errado, o que é justo ou injusto, merecido ou imerecido são questões que se levantam desde o início até ao fim.

Mesmo assim, o capitão Whitaker conquista-nos desde os calmos e destemidos primeiros momentos no cockpit do “Southjet 227”. A sua maneira de falar, de interagir com o co-piloto, a coragem nas suas decisões de risco, a forma como trabalha os comandos do avião e o inesquecível “não quero piloto automático, hoje vou voar manualmente” asseguram-nos e aquecem-nos por dentro. Temos a certeza de que ele é o melhor. Pelo menos é, seguramente, o único que conseguia salvá-los e isso, para nós, chega.

Há aqui um sem fim de momentos em que Washington nos surpreende e arrebata, mas aquele que sobressai, talvez pela sua simplicidade e crueza, é o primeiro momento em que ele fica sozinho no quarto do hospital depois de acordar. O primeiro momento em que, depois de estar consciente do que aconteceu, ele se permite sentir o que aconteceu.

É assim que Denzel Washington, nomeado para o Óscar na categoria de “Melhor Actor” pela sua performance em “Decisão de Risco”, nos conquista e, quando chega o final do filme, estamos a torcer, sem vergonha, pelo alcoólico Whip Whitaker e a guardá-lo no coração como um herói na era moderna.

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