Financial Times anuncia prioridade para o digital

O jornal económico vai despedir 25 jornalistas e contratar dez exclusivamente para a secção online.

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O Financial Times mudou de estratégia: vai dar prioridade ao digital em vez da edição em papel. Numa “grande mudança cultural”, o jornal económico vai despedir elementos da actual redacção e contratar novos jornalistas. Objectivo: conquistar mais assinantes.

O anúncio foi feito na segunda-feira pelo director Lionel Barber e, na mudança para o digital, o jornal vai entrar em negociações com o Sindicato Nacional de Jornalistas (NUJ, na sigla inglesa) para despedir 35 dos 600 jornalistas. Depois, a redacção será reforçada com dez novos jornalistas que se dedicarão exclusivamente à edição online do jornal.

Numa nota aos funcionários – publicada integralmente no diário britânico The Guardian –, Barber escreve que “a intenção é reduzir o custo de produção do jornal em papel, o que traz flexibilidade para investir mais no online”. Os despedimentos deverão permitir ao jornal uma redução de custos na ordem dos 1,6 milhões de libras (1,9 milhões de eurso) este ano.

O director do Financial Times diz que numa visita a Silicon Valley, o pólo industrial da Califórnia, nos Estados Unidos, no ano passado, percebeu a urgência da mudança, uma vez que os meios de comunicação concorrentes estão “a aproveitar a tecnologia para revolucionar o negócio dos media, através de agregação, personalização e redes sociais”. Por isso, o jornal fundado em Londres em 1888, ainda sob outro nome, não pode agora ficar de fora desta “grande mudança cultural”.

Na nova estratégia, alguns jornalistas deverão transitar da tradicional edição impressa para a edição online – “tornando-se editores de conteúdos” – e passar a trabalhar mais em turnos diurnos do que nocturnos.  

Barber realça que o jornal vai continuar a apostar em reportagens aprofundadas e originais baseadas em várias fontes, embora “também tenha de reconhecer que a internet oferece novos caminhos e plataformas para uma distribuição e partilha de informação mais rica”. Reconhece que não se trata de uma transição fácil, mas necessária. “Estamos a mover-nos de um negócio dos media para um negócio em rede”, acrescentou.

O Financial Times tinha aumentado o preço da edição em papel, cobra pelo acesso a determinados conteúdos online e, na primeira metade de 2012, o caminho para o digital já havia dado provas de poder ser uma aposta ganha, “com as subscrições digitais a excederem a circulação em papel”, lê-se num comunicado publicado no site do jornal. No mesmo período, as subscrições digitais aumentaram para mais de 300 mil e os utilizadores activos eram 4,8 milhões. “A nossa audiência diária aumentou para perto de 2,1 milhões, com o número de pessoas que leem o Financial Times em mais do que um canal a aumentar 27%”, lê-se no site. “Fomos pioneiros e este não é o momento para falhar”, escreve agora Barber na nota divulgada pelo Guardian.

No mesmo texto fica implícito uma redução dos correspondentes permanentes em detrimento de um sistema de enviados especiais. “Temos de tentar ter gente nos lugares adequados, preparada para consagrar o seu talento na cobertura das grandes histórias do Financial Times e sem correr o risco de ficarem isolados em nichos ou geograficamente.”

Barber anunciou ainda que o jornal vai criar novos produtos e serviços online, o que deverá permitir “pensar mais profundamente numa forma mais dinâmica e interactiva do jornalismo do Financial Times para além da palavra impressa”.

A estratégia do grupo Pearson PLC, que detém o Financial Times, surge dois anos depois de o britânico The Guardian ter anunciado a aposta no digital em 2011, o que se aplicaria também às edições de domingo do The Observer. Esse anúncio seguiu-se a prejuízos de 33 milhões de libras (cerca de 25 milhões de euros), numa altura em que “não fazer nada não era uma opção”, declarou o director executivo do Guardian Media Group, o grupo que detém os jornais, Andrew Miller. Um ano depois, o jornal noticiava que a nova estratégia tinha “compensado largamente” a perda de receitas das vendas em papel.

O The New York Times reintroduziu, em 2011, um sistema de cobrança por acesso a determinados conteúdos online. Os cerca de 300 milhões de leitores mensais passaram a ter de pagar a partir do 20.º artigo e a opção representava “um investimento no futuro”, dizia Arthur Sulzberger Jr., então presidente do jornal.

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