Decisão de Risco

Não deixa de ser curioso ver Robert Zemeckis, discípulo de Spielberg, cineasta dos efeitos visuais e da tecnologia, autor de Regresso ao Futuro e Quem Tramou Roger Rabbit?, procurar reencontrar o seu élan de Forrest Gump. Decisão de Risco é uma história sem espectáculo nem tecnologia (à excepção de uma sequência) onde tudo depende do “factor humano”, com o bom senso de escolher Denzel Washington para o papel principal.


Mas o resultado é, surpreendentemente, um pastelão anónimo que desbarata o bom elenco que reuniu (Don Cheadle e Melissa Leo nem deixam rasto) e a provocação moral que lhe reside no centro: um piloto salva um avião do desastre com uma manobra impossível, mas é um alcoólico que o faz depois de uma noitada sob o efeito de um cocktail de álcool e drogas que deitaria abaixo um homem menor.

Confirmando que tem mais jeito para a tecnologia (e que, provavelmente, perdeu o jeito para a “imagem real”), Zemeckis contenta-se com o livro de estilo do alcoolismo hollywoodiano calibrado à medida dos Óscares, mas nem mesmo Washington, muitas vezes capaz de ser um actor eléctrico, transcende o piloto automático. Só as presenças fugazes de John Goodman, no boneco transgressor do dealer, e James Badge Dale, com uma cena espantosa no corredor do hospital, salvam Decisão de Risco do tarefeirismo anónimo.

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