"O pessimismo ajuda-nos a estar alerta"

O psicólogo americano Edward C. Chang fala dos perigos do optimismo e das vantagens do pessimismo e diz que é preciso ter em conta o factor cultural.

Foto

Edward C. Chang dirige um laboratório na Universidade do Michigan dedicado ao Optimismo-Pessimismo e tem-se focado na forma como estas duas projecções do futuro são influenciadas por variáveis como cultura e raça.

Professor de psicologia clínica, Chang é autor de vários livros sobre estes temas. No laboratório questiona-se se, ao contrário do que a investigação tem apontado, o pessimismo pode ser positivo em alguns contextos e o optimismo negativo – e ainda se o optimismo, tão valorizado em países como os Estados Unidos da América, varia de acordo com as culturas e grupos raciais. Entre as várias pesquisas que fez, uma foi sobre o “preconceito optimista”, que “não existe praticamente em culturas asiáticas – como na japonesa e entre os asiático-americanos”. “Quando se pergunta às pessoas qual é a probabilidade coisa boas ou más lhe acontecerem, o típico americano-europeu vai responder que a probabilidade de alguma coisa má me acontecer é mais baixa do que a média e a probabilidade de alguma coisa boa me acontecer é mais alta do que a média. Quando pergunta a japoneses e a asiático-americanos é ao contrário.”

Chang acredita que há uma “diferença normativa” entre culturas asiáticas e ocidentais porque para muitos asiáticos são extremamente importantes noções de obrigação, honra, respeito pelos pais. “As crianças asiáticas são ensinadas a não ofender os pais e aprendem a antecipar situações desafiantes de forma a garantir que o resultado é sempre positivo não apenas para si mas também para a família. Usam assim a estratégia do pessimismo: antecipam todas as coisas que podem correr mal, os obstáculos e consegue-se assim ter uma noção dos recursos disponíveis e tomar as medidas necessárias. Ou seja, muitos asiáticos podem usar essa estratégia pessimista porque simplesmente funciona.”

Porque é que o pessimismo nem sempre é negativo, nem o optimismo positivo?
Se é algo que varia de cultura para cultura tem que ser porque funciona e tem significado num contexto. Os asiáticos são pessimistas porque isso os motiva a trabalhar mais e mais do que precisam e portanto o resultado é que têm mais hipóteses de alcançar o que precisam.

Mas se olharmos com mais atenção, não é que exista falta de optimismo – os pais que puxam pelos filhos acreditam que se eles trabalharem muito conseguem lá chegar. De forma simplista, a dinâmica não é ser uma coisa ou outra. O pessimismo ajuda-nos a estar alerta. E se o usarmos como estratégia para atingir um objectivo a experiência do resultado vai ser optimismo e alta auto-estima.

Há uns anos fiz uma pesquisa sobre o que é que acontece a optimistas e pessimistas quando coisas negativas lhes acontecem. O resultado foi que os grandes optimistas experienciam mais sintomas depressivos do que os pessimistas. Ou seja, há uma vulnerabilidade em ser-se optimista cego. Os pessimistas antecipam: a vida é dura. É preciso haver um olhar equilibrado. O pessimismo pode ajudar-nos a sobreviver e, a longo prazo, a conquistar melhor as coisas porque aprendemos a desenvolver estratégias e precauções de modo a termos planos B.

Uma das justificações dos aspectos positivos do optimismo é que, quando se acredita que se vai conseguir uma coisa, isso é uma motivação – e durante o período em que se é optimista está-se mais feliz. O que é que a sua pesquisa mostra sobre isto?
Isso é uma história muito poderosa sobre o optimismo e está relacionada com bem-estar. Mas é preciso olhar para a perspectiva a curto e longo-prazo. Sim, há pesquisa que diz que o optimismo é motivador mas também há pesquisa que diz que se se acreditar que a personalidade é maleável então ser pessimista não vai influenciar a motivação. Há um estudo americano em que se perguntou, antes do exame, qual era a nota que os estudantes esperavam. A maior parte respondeu de forma optimista. Duas semanas depois, perguntaram que nota achavam que tinham tido no exame e a maioria reviu as suas previsões para uma nota mais baixa. Porquê? Para manterem os seus níveis de felicidade – se tivessem uma nota intermédia ficavam contentes. Ou seja, o pessimismo pode ser útil para um resultado positivo.

A felicidade para muitos americanos é emocional – e é pessoal, não é felicidade familiar ou de grupo. E em alguns sítios na Europa e na Ásia a felicidade é de grupo – se os meus pais forem felizes, fico contente. O optimismo está relacionado com a felicidade, mas a questão é: qual é o objectivo, felicidade individual, ou de grupo? Não tenho uma resposta para isso.

O essencial é: se não há razões para sermos optimistas é perigoso. E o mesmo para o pessimismo. Acho que a vantagem real de se ser pessimista é acreditar que o futuro pode ser mudado: aí a probabilidade de se alcançarem resultados positivos é maior.

Optimismo e pessimismo têm a ver com expectativas – um estudo mostrou que, independentemente dos resultados, as pessoas com expectativas mais altas serão sempre as mais optimistas – por exemplo, se o exame corre mal a culpa é do exame ou de quem o fez, não da própria pessoa…
…isso é um óptimo exemplo. Num contexto asiático, há imensa pesquisa que sugere que, quando nos tornamos auto-críticos – falhei o exame por minha causa –pensamos: ‘Ainda bem que fui eu. Não posso mudar o exame, nem o professor, mas posso mudar-me.’ Para os pessimistas isso ainda os motiva a trabalhar mais.

Pensemos nos Estados Unidos: é uma terra de imigrantes. A maioria, incluindo os meus pais, chegou aqui com uma crença optimista: vai ser o melhor sítio para ter educação, fazer dinheiro, ter uma boa vida. Isto é a terra dos optimistas. E há diferenças culturais que não têm apenas a ver com EUA-Ásia. É preciso ver que quando falo de cultura é muito mais do que pertencer a um país: já conheci noruegueses mais asiáticos do que eu.

Bom, mas a questão é que coisas boas e coisas más acontecem independentemente de se ser optimista ou pessimista. Quando somos novos, é clássico: somos invulneráveis, temos imenso optimismo. Quando crescemos, ganhamos moderação no optimismo.

O pessimismo está ligado à depressão?
Muita gente acha que sim. Mas há um perigo, nessa associação – por exemplo, um asiático pode ser visto como uma doença mental quando faz parte de uma norma cultural.

Há imensos livros sobre optimismo, pensamento positivo – faltam livros sobre pessimismo. Devíamos aprender a ser pessimistas?
Absolutamente. Não é sobre vício e virtude mas equilíbrio. O optimismo quando é excessivo e irrealista pode ser um vício – o pessimismo pode ser uma virtude porque nos mantem com os pés na terra e conscientes das possibilidades de falhanço. São como um duo dinâmico, em que o optimismo nos faz avançar e o pessimismo mantêm-nos com os pés na terra e com capacidade de olhar o objectivo e os obstáculos de forma realista. Qualquer ponto de vista que diga que o optimismo é sempre bom e o pessimismo mau é demasiado simplista.

Pensando em 2013, devemos ser optimistas ou pessimistas?
As duas coisas! Esperar que as coisas possam correr mal e portanto ser conservador em previsões, investimentos, julgamentos, emoções, etc, mas continuar a ter esperança de que as coisas podem melhorar. Optimismo e pessimismo são como um fluxo que nos fazem andar – pessimismo para nos manter com os pés no chão, optimismo para acreditar que podemos mudar. 

Sugerir correcção
Comentar