"Detachment" é um murro no estômago

É uma crítica brutal à sociedade actual e à proliferação, exactamente, de mentes, não perigosas, mas estúpidas. Mentes que absorvem sem filtrar

O filme "Detachment" encontra em Adrien Brody um actor principal e um produtor executivo. Brody partilha a primeira tarefa com nomes sonantes como Cristina Hendricks, Blythe Danner, James Caan e Lucy Liu e a segunda com o produtor de "The Hurt Locker".

A principal crítica ao desempenho de Brody – aliás, evidenciada no cartaz do filme – é do The Hollywood Reporter e diz que é a “sua melhor performance desde o pianista”. Adrien Brody é, para muita gente, “aquele que fez o pianista, sabes?”, uma performance galardoada com o Óscar de Melhor Actor em 2003, com mais quatro prémios e nove nomeações.

Para além desta figura que conhecemos, mas já não vemos há algum tempo, "Detachment" conta com o olhar original e avassalador de Tony Kaye. A originalidade começa logo pelas palavras no cartaz do filme: “A Tony Kaye talkie”. Um talkie é um filme com som, esta expressão surgiu nos anos 20/30 quando o cinema deixou de ser mudo. Este realizador fez trabalhos tão esporádicos e com resultados surpreendentes como Brody. Na carreira de Kaye, especialmente conhecido por fazer vídeos de música, destaca-se o filme "América Proibida", realizado em 1998.

"Detachment" reúne, assim, os instrumentos para ser um filme de grande qualidade, mas a sinopse que vai de encontro aos espectadores que ainda não viram o filme deixa a questão: será este apenas mais um "Dangerous Minds"? É o próprio Adrien Brody, na pele de Mr. Barthes – o professor substituto que trabalha em escolas de zonas problemáticas da cidade – que responde. Diz que ensinar é “compreender as complexidades do mundo em que vivemos”. É isto que a personagem principal faz na sua narração que nos acompanha ao longo do filme e, também, na sala de aula, da qual nós nos começamos a sentir parte. E aqui surge o grande trunfo deste filme: a análise desta complexidade da qual nós nos afastamos instintivamente mas que, na verdade, também nos toca e nos envolve e se aplica a nós.

Este filme está repleto de palavras e imagens escolhidas para nos chocarem, para nos entristecerem, para nos sentirmos como ele se sente. É uma crítica brutal à sociedade actual e à proliferação, exactamente, de mentes, não perigosas, mas estúpidas. Mentes que absorvem sem filtrar.

É um filme que faz chorar devagarinho, porque sentimos o poder da mensagem que transmite e essa mensagem vem na face de uma performance surpreendente. Mas, para além do poder da mensagem e da sua importância na actualidade, para além do desempenho avassalador de Adrien Brody, Tony Kaye transforma a realização deste filme numa ponte firme e directa para o espectador, interpretando através da imagem e de forma magnífica as palavras e as ideias do professor Henry Barthes e os seus sentimentos e dos seus alunos.

Um filme que alia de forma quase perfeita a narração e a imagem, numa viagem que nos faz ponderar o poder do desespero e a força de acreditar e pensar quanto daquela mensagem se aplica a nós próprios.

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