Kuwait vai a eleições, mas há muita gente que as quer boicotar

Deputados da assembleia e vários cidadãos estão a promover um boicote às eleições de sábado no Kuwait, por causa da lei eleitoral. Tem havido manifestações que juntam milhares de pessoas.

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O Kuwait é dos mais países do Médio Oriente que mais tolera a liberdade de expressão, mas o poder governativo continua concentrado no xeque YASSER AL-ZAYYAT/AFP

Dezenas de milhares de pessoas desfilaram na sexta-feira no Kuwait, num protesto que ficou conhecido como “A Dignidade da Nação”, que serviu para apelar ao boicote das eleições que acontecem hoje. A razão é a nova lei eleitoral, que limita o número de votos por cidadão. Esta será a quinta vez que os kuwaitianos vão a eleições legislativas desde 2006.

A principal linha de protesto da manifestação desta sexta-feira era contra a nova lei eleitoral do Kuwait. Antes da aprovação da lei, cada pessoa podia votar em quatro candidatos. Agora, só podem votar numa pessoa para um Parlamento que tem 50 vagas e poder legislativo.

Os partidos políticos são proibidos, mas as eleições para o parlamento são, ainda assim, livres e abertas. Desta forma, os cidadãos votam nos candidatos que preferem ver no parlamento. Os deputados da oposição (cujas visões políticas se dividem entre o islamismo, o liberalismo e o populismo) também estão a apelar ao boicote a estas eleições.

Apesar de serem conhecidos como “oposição”, estes deputados estão em maioria no Parlamento. Merecem o cunho de “oposição” porque se opõem várias vezes ao xeque Sabah al-Ahmad al-Sabah, que é a maior autoridade governativa do país. O xeque é membro de uma dinastia que já leva 250 anos de história. Tem o poder de veto sobre o Parlamento, pode dissolvê-lo e é dele a última palavra em assuntos de Estado.

O xeque tem dito que o sistema eleitoral anterior tinha falhas e que a alteração do número de votos por cidadão de quatro para um foi feita para garantir a “segurança e a estabilidade” do Kuwait. A oposição acusa-o de com esta medida favorecer os deputados que lhe são leais.

Outra das reivindicações é a de que o Governo passe a ser popularmente eleito. Até agora, quem tem poderes de seleccionar o Executivo é o xeque, o que leva invariavelmente a que sejam escolhidas pessoas que lhe são próximas, inclusive familiares.

O Kuwait tem até agora resistido à Primavera Árabe, graças a um sistema de segurança social abrangente, e uma economia em crecimento (subiu 8,25% do PIB em 2011, e o FMI aponta para 6,6% em 2012). Tudo fruto do petróleo, que abunda no Kuwait. A população pode nem chegar aos quatro milhões, mas mesmo assim o Kuwait é o sétimo maior produtor de petróleo do mundo.

Ainda assim, os últimos anos têm sido marcados pela instabilidade política, fruto das tensões entre os deputados e os membros do Governo. Este confronto tem afastado alguns investimentos e tem, segundo a agência Reuters, atrasado as reformas económicas. O xeque Sabah al-Ahmad al-Sabah reage, e dissolve a Assembleia. É uma acção comum desde 2006. As eleições legislativas de sábado serão, aliás, as quintas desde 2006.

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