Quase um milhão de pessoas saíram de Espanha desde 2011

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Manifestantes voltaram às Portas do Sol em Madrid, no sábado, para protestar contra a austeridade e o pagamento das dívidas dos bancos Juan Medina/Reuters

São aos milhares os que partem, e os que pedem ajuda para pagar a luz ou comprar comida. Em Espanha, no último ano e meio, quase um milhão de pessoas saíram do país e há oito milhões a bater às portas dos serviços sociais.

Pela primeira vez, o saldo migratório foi negativo em todas as comunidades espanholas. Este ano saíram do país mais 137.628 pessoas dos que aquelas que entraram, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) espanhol relativos aos primeiros nove meses deste ano. Ao todo, o número de espanhóis a abandonar o país aumentou 21,6% em relação aos primeiros nove meses do ano passado. Mais de 420.000 pessoas saíram de Espanha, das quais 54.912 espanhóis e 365.238 cidadãos estrangeiros.

O desemprego, que é agora de 24,6%, a taxa mais elevada da União Europeia, levou milhares de pessoas a sair de Espanha, ao mesmo tempo que os serviços sociais viram aumentar em 20%, entre 2009 e 2010, o número de pessoas a precisar de ajuda de emergência, de apoio para pagar a água ou alimentos. Já em 2010, sublinhou o El País, a percentagem de pessoas a pedir ajuda aumentou 19,5% em relação ao ano anterior, e é de esperar que os dados de 2012 demonstrem que a situação se deteriorou ainda mais.

Entre os que pediram ajuda há 26% de famílias com menores e verificou-se também um aumento do número de pessoas que vivia com alguns recursos e que agora pede ajuda aos serviços sociais. “Em 25 anos de serviço social nunca tinha visto nada parecido”, disse ao El País María José Arredondas, funcionária de apoio social na região rural de Lugo. “Os imigrantes que conseguiram juntar a sua família estão a passar verdadeiramente mal porque não têm apoio familiar e dos vizinhos. E também estamos a ver muitos casais jovens com filhos em que ambos perderam o emprego”, adianta. Em toda a Espanha há mais de 1,7 milhões de lares com todos os seus membros no desemprego.

Nos últimos dois anos, o orçamento para ajudas de emergência diminuiu 65,4%, sublinhou o El País. “Os serviços sociais públicos nunca estiveram tão sobrecarregados, e com os cortes não há recursos. Não são serviços que se possam cortar, deveriam ser aumentados”, defende María José Arredondas.

Os novos dados relativos a migração que agora foram divulgados pelo INE revelam que 927.890 pessoas saíram de Espanha entre Janeiro de 2011 e Outubro de 2012 e que, destas, 117.523 eram espanhóis. Neste período foram sobretudo os homens que partiram (542.724), mas aumentou também o número de mulheres a deixar o país (385.166).

Depois de muitos anos de saldo migratório positivo – em 2009 entraram em Espanha mais 47.362 pessoas do que aquelas que saíram e em 2010 esse número foi de 62.156 –, pela primeira vez esse saldo foi negativo em todas as comunidades espanholas. Só da Catalunha, a região de maior emigração, onde as medidas de austeridade fizeram aumentar a pulsão independentista, saíram mais 6581 pessoas do que as que entraram, mas também da Comunidade de Madrid o saldo migratório foi negativo, com mais 5518 pessoas a abandonar a região do que aquelas que a escolheram para viver.

Nos primeiros nove meses deste ano entraram em Espanha 282.521 pessoas, menos 18,3% do que no mesmo período do ano anterior, enquanto nesse período de 2011 tinham chegado ao país 314.191 estrangeiros esse número diminuiu no mesmo período deste ano, para 253.149.

Setembro foi o mês em que se registaram mais saídas do país (6924 pessoas), depois de Fevereiro (6428) e Março (6389) também terem sido meses de uma forte emigração.

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